Mudando de canal, vou percebendo a multiplicação de pregadores teatrais, sensacionalistas, triunfalistas e de autoajuda na televisão brasileira. São eles uma mistura bizarra de palestrantes motivacionais, advogados de júri e comediantes de stand up. Muitos deles são da minha igreja Assembleia de Deus. Muitos deles aparecem no periódico encontro dos tais Gideões Missionários, em Balneário Camboriú/SC.
Sei que a Convenção Geral das Assembleias de Deus não aprova as heresias defendidas por muitos pregadores que correm o país em festas e congressos. Sei que não aprova as besteiras faladas e realizadas em supostas "vigílias de oração" e no tal encontro de Gideões Missionários. Sei que também não avaliza a "unção dos R$ 900,00", de Silas Malafaia e Morris Cerullo - a sã doutrina vem ensinada em nossas revistas de Escola Dominical, publicadas pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), uma das melhores editoras evangélicas do Brasil. Todavia, as besteiras dão ibope, e por isso não são rechaçadas como deveriam.
Silas Malafaia é hoje o vice-presidente da Convenção nacional assembleiana. Logo ele, uma pessoa que passou das doutrinas bíblicas para a defesa desenfreada da Teologia da Prosperidade. Fico pensando o que teria feito o Sr. Silas Malafaia mudar de ideia assim. Ele, que combatia veementemente o G12, a Teologia da Prosperidade, as heresias e modismos...
Se fôssemos uma igreja doutrinariamente séria como as igrejas batistas e presbiterianas históricas, haveria um controle maior do que se fala ao púlpito, e maior preocupação com a Escola Dominical - que na maioria das vezes parece uma feira livre, com todos os professores falando ao mesmo tempo, na mesma sala (se alguém achar que não, vá a uma Assembleia de Deus no domingo de manhã e verifique o que digo - algo que sinaliza a importância que damos ao estudo sistemático e congregacional da Palavra de Deus).
É ridículo e em tudo errado aceitar que pessoas descompromissadas com a Bíblia andem falando o que vier às suas mentes, só porque entrecortam seu discurso com frases em línguas estranhas, e porque têm boa performance no palco - seja essa "boa performance" o que for.
Tenho vergonha ao ver certos indivíduos se exibindo na TV como supostos pregadores do Evangelho, pois erram na forma e no conteúdo. Gritam, esbravejam, pulam, fazem promessas que não podem cumprir, usam o Nome de Deus em vão, brincam com coisas sérias. Nessas horas, penso em como poderia eu explicar a meus colegas de trabalho porque eu e esses cidadãos pertencemos à mesma denominação. Não que eu seja melhor nem pior - mas diferente. Penso diferente.
Ainda não deixei a Assembleia de Deus por alguma teimosia, talvez. Não tenho receio em dizer isso. É necessário perder certas restrições ao tratar de assuntos como o futuro da nossa denominação. Ficar dizendo que toda igreja tem problemas é uma saída débil e debilitante. Sim, problemas pontuais eu suporto. Agora, problemas estruturais e de fundo precisam ser enfrentados com coragem, de verdade.
Minhas forças vão se esmorecendo aos poucos. Clamo neste blog como que num deserto. E, como não sou um Jeremias, um João Batista nem um Elias, meu coração estremece, minhas pernas cambaleiam, meus braços se cruzam de tristeza ao ver a obra dos pioneiros suecos desfalecer em meio à turba irracional e carente, conduzida por líderes oportunistas, acovardados ou gananciosos.
Fingir que não existo, que não nasci e fui batizado numa Assembleia de Deus? Fingir que minha formação religiosa não é pentecostal? Fingir que fui eu que saí do caminho e que minha igreja continua no caminho certo? Fingir que minha biografia não é diferente da biografia da média dos jovens assembleianos? Fingir, então, que não sou um assembleiano "peixe fora d'água"?
Qual será a minha missão? Com certeza não é prometer vitória aos berros. Não contem comigo para isso.
6 comentários:
Olá!
Sou católica e me identifico com suas inquietações. Precisamos estar mais atentos ao Evangelho de Jesus, que Boa Notícia aos pobres e desvalidos. Para quem será que algumas pessoas de nossas Igrejas tentam ser boa notícia? Essa é uma pergunta que fica no ar... Abraços
Prezada Gessi:
Honra-me receber seu comentário. Penso que é importante publicar algumas inquietações para mostrar que pensamentos dessa natureza não são incomuns - o leitor, ao deparar com esses desabafos, poderá perceber que não está só.
Continue acessando o blog!
Um abraço fraterno.
Alex.
Caro Alex, cá estou eu, um batista da CBB, para tentar dar mais um empurrão (de leve) para que você caia nos braços de uma igreja batista - hehehe.
Mas, infelizmente, tenho que dizer que muitos batistas já permitiram que minhocas, aranhas e outros bichos se aninhassem em suas mentes, por isso, se for migrar, precisa fazê-lo com cuidado.
Mas, parabéns pela sua coragem e zelo.
Continue assim!
Pr. Carlos Trapp,
Obrigado pelo incentivo. Se eu migrar para uma igreja batista, o senhor vai ser o primeiro a saber (hehehe).
Acho que fui eu que comentei que em todas as igrejas há problemas... Mas, fazer o quê? É fato! Veja por outro lado - uma das marcas da maturidade é exatamente saber amar, servir, tolerar os mais fracos e diferentes. Não posso dizer "saia" ou "fique". Isso é decisão sua e de Deus. Mas, se ficar, é para ser bênção, e, se sair, também - em paz, sem precisar negar suas origens. Eu já fui da IPB (principal denominação reformada no Brasil), saí por problemas muito mais, digamos, administrativos e por questiúnculas da lideranças regionais - e, porque não dizer, porque o meu tempo lá estava terminado. Mas não deixei a teologia reformada, não nego que tenho lá preciosos irmãos, não nego que fui abençoado e que aprendi muito - mas saí, agora "estou" batista - não posso dizer que "sou" - e, sabe o que mais? Foi ótimo. Fui mui bem recebido, continuo servindo a Cristo, abençoando e sendo abençoado, aprendi mais, vejo em tudo a mão de Deus.
Sim - na IPB que eu frequentava, também havia várias classes funcionando no mesmo salão... coisas do evangelicalismo brasileiro! Lá nos virávamos!
Caro João Armando:
Ao escrever esse texto, eu não tinha em mente a sua abordagem. Considero problemática a afirmação que tenta escapar ao cerne das questões, usando esse tipo de frase para não enfrentar os problemas que há. Não se trata de problemas pontuais, mas de vícios fundantes, coisas relacionadas aos princípios de vida. Você trata dos temas com maturidade, convicções firmes, racionalidade e conhecimento das Escrituras. É diferente daqueles que sequer ouvem nossas inquietações e simplesmente fingem que tudo está bem. São perspectivas bem diferentes.
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