"Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e de mim inclusive" (Rm 16.1,2).
Prosseguindo em nossa série Vocacionados, vamos tratar da vocação de uma mulher cujo nome era Febe.
Sim, depois de estudarmos a vocação de Davi, Moisés, Samuel, Amós, Timóteo e Jonas, chegamos à vocação de uma mulher. Uma mulher que Paulo citou em poucas palavras numa carta à igreja de Roma, mas que merece ter sua vocação estudada porque não há dúvida de que se trata de uma pessoa chamada por Deus para determinado serviço.De acordo com o apóstolo Paulo, que a recomendou à igreja romana, Febe a) servia à igreja de Cencréia; b) protegia a muitos; e) e protegia a ele próprio.
Quanto ao conteúdo desse serviço, há uma dúvida: como a palavra grega diakonos, do verbo diakoneo, significa serva, ministra ou diaconisa, é possível afirmar com certeza que Febe era diaconisa na acepção técnica da palavra? Se ela servia à igreja, havia sido constituída como diaconisa?
Não é possível afirmar tal coisa com base num único texto, pois a diaconia pode ser tanto um serviço no sentido geral, como também um serviço subordinado, no sentido técnico.
Bem por isso, não se pode concluir, somente a partir de Rm 16.1,2, que Deus instituiu mulheres como diaconisas, muito menos como episcopisas ou pastoras. Essa dedução, com fulcro nesse texto, é uma interpretação forçada, que pode servir a interesses ideológicos, mas não obedece aos princípios da hermenêutica.
Vale afirmar que a Bíblia traz outros exemplos de mulheres que serviam a Deus: as mulheres que serviam ao ministério de Jesus com seus bens; Dorcas, a costureira; Ninfa, que recebia a igreja em sua casa; Priscila, sempre ao lado de seu esposo Áquila. É muito mais apropriado, portanto, entender que Febe servia ao SENHOR como essas outras mulheres.
Há diversos vocábulos gregos para serviço: latreuo (cumprir um serviço remunerado); leitourgeo (prestar um serviço público); douleo (servir como escravo); therapeauo (servir espontaneamente). Já diakoneo é o mesmo que fazer um serviço pessoal.
Mulheres podem ser episcopisas ou pastoras? Bem, I Tm 3.2 afirma que os presbíteros devem ter uma só esposa. Não há recomendação de que as pastoras tenham um só marido.
Somente três vezes no Novo Testamento a palavra diakonos surge com o sentido técnico de ministro ordenado: Fp 1.1, referindo-se Paulo aos "bispos e diáconos" que vivem em Filipos"; e I Tm 3.8,12, quanto aos requisitos para o diaconato - entre eles, o de ser marido de uma só mulher.
Outras vinte e sete vezes, o vocábulo diakonos surge como sinônimo de servo, mas em sentido não-técnico, enquanto o verbo diakoneo aparece trinta e seis vezes para significar servir, ministrar, duas dessas ocasiões para indicar o ofício de diácono.
É esclarecedor o fato de que "presbítero" e "apóstolo" nem sempre trazem o sentido técnico, pois tanto Pedro como João, constituídos apóstolos, se apresentam como presbíteros, ao passo que há pessoas no Novo Testamento denominadas "apóstolos", sem que participassem do grupo dos Doze.
Outrossim, se quisermos considerar Febe como diaconisa a todo custo, teremos que aceitar irremediavelmente os seguintes personagens como diáconos: Paulo (Ef 3.7; Cl 1.23,25); Tíquico (Ef 6.21; Cl 4.7); Epafras (Cl 1.7); e Timóteo (I Ts 3.2; I Tm 4.6).
Quanto aos sete diáconos instituídos em At 6.1-6, embora a palavra diakonos não seja usada como nos casos em que se trata do ofício de diácono, tem-se a palavra diakonia, termo feminino que alude ao trabalho por eles desempenhado - servir às mesas. Não vejo como não reconhecer naqueles sete homens a função de diáconos, pois foram solenemente ordenados para esta função específica.
Há outra questão: a palavra prostatis, traduzida, por exemplo, como "protetora" (ARA), "patrocinadora" (NCB) e "de grande auxílio" (NVI), aparece na ARC como a seguinte expressão: "tem hospedado". A julgar pelo uso secular do termo, este teria que ser traduzido como "que governa" ou "que tem autoridade", mas as traduções da ARA e da NVI parecem optar pelo entendimento de que não se trata de supervisão administrativa, mas de serviço subordinado, semelhante a governança.
Caso entendêssemos que prostatis significa autoridade e governo, teríamos que concluir que Paulo estava sob a autoridade de Febe, algo inconcebível para quem conhece o Novo Testamento e um pouco da cultura judaica de então.
O fato de em I Tm 3.11 constar menção a mulheres (gunes) pode se referir às esposas dos diáconos ou presbíteros ou às mulheres diaconisas - mas isto não pode ser comprovado nem, se comprovado, habilitaria a dedução de que Febe foi diaconisa.
É oportuno citar essa passagem do Novo Comentário da Bíblia (p. 1183) a respeito de Rm 16.1-16):
"Dos nomes desta lista histórica [galeria de crentes em Rm 16], um terço é de mulheres, a revelar o lugar proeminente que elas ocupavam na igreja de Roma. Paulo foi pioneiro do reconhecimento da função das mulheres no serviço cristão, e sua atitude tem sido muito mal compreendida neste particular".
Em seguida, o NCB trata de Febe:
"O testemunho que dá de Febe (1,2) é honrosíssimo. É apresentada como irmã, isto é, da família espiritual do Senhor, sugerindo igualdade de privilégios na irmandade, como serva da igreja em Cencréia, isto é, diaconisa (Fil. 1.1), e como protetora (gr. prostatis, "patrocinadora"), a implicar que era uma senhora de recursos, que trabalhara no meio da população das docas, no porto de Corinto. Acredita-se que Febe estava de viagem para Roma e Paulo confiou aos seus cuidados esta preciosa epístola, para que a fizesse chegar com segurança ao seu destino".
Nessa esteira, a Bíblia de Jerusalém afirma em nota de rodapé que Febe era "certamente a portadora da carta", e a chama de diaconisa (p. 1990).
Com todo o respeito, e salvo melhor juízo, embora o termo diakonos possa ser traduzido como diaconisa, o problema semântico - serviço técnico ou serviço geral - exige que a tradução seja mais cautelosa, trazendo o sentido de "serva", à míngua de outros elementos. Além disso, a hipótese de ter sido Febe uma mulher de recursos, patrocinadora de atividades da igreja, pode até mesmo afastar a diaconia na acepção técnica. No mais, são especulações.
Sopesadas todas essas informações teológicas, cumpre observar que não temos a pretensão de defenestrar o trabalho feminino nem de desmerecer os feitos de mulheres que muitas vezes tomam a frente de atribuições para as quais faltam homens. A questão aqui é estudar a vocação de Febe, e isso passa pelo problema da ordenação de mulheres, ponto sempre suscitado quando se cuida de Rm 16.1,2.
Entendemos que a Bíblia interpreta a si mesma. Se a Bíblia se cala quanto a detalhes que gostaríamos de conhecer, não nos cabe tentar suprir essa suposta "omissão", pois a Palavra de Deus não deixa a desejar. Tampouco podemos praticar a tal eisegese (diferente da exegese), incutindo no Texto Bíblico aquilo que nos interessa, como fazem, neste caso, alguns que procuram sustentar o direito de ordenação das mulheres ao ministério episcopal.
Por outro lado, o que importa é reconhecer em Febe como que a precursora de tantas e tantas mulheres crentes neste e em outros países, que oram, jejuam, frequentam assiduamente os cultos, participam na Assembleia de Deus dos tradicionais Círculos de Oração, ou das Sociedades Femininas da Igreja Presbiteriana, ou de tantos outros organismos e atividades das igrejas espalhadas pelo mundo. No Brasil, as mulheres são maioria nas igrejas, fato empiricamente observado. São elas que sustentam as atividades de visitação, dirigem cultos de missões, preenchem a maioria das cadeiras dos corais, formam os grupos de senhoras, cumprem, enfim, o seu ministério.
Febe é vocacionada, sim. Ela cumpre a sua missão. Protege, cuida, administra, serve, hospeda. Se ela não fosse tão especial, não mereceria esse destaque dado pelo Espírito Santo, pelas mãos de Paulo.
Reconhecendo o trabalho de Febe, Deus reconhece o trabalho de todas as mulheres cristãs.
Nota: utilizei várias informações extraídas do endereço http://www.scribd.com/doc/3009693/Febe-era-Diaconisa.
Também: Novo Comentário da Bíblia (NCB), São Paulo: Edições Vida Nova, 1963, V. II, p. 1183.
Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 1998, p. 1990.
Há outra questão: a palavra prostatis, traduzida, por exemplo, como "protetora" (ARA), "patrocinadora" (NCB) e "de grande auxílio" (NVI), aparece na ARC como a seguinte expressão: "tem hospedado". A julgar pelo uso secular do termo, este teria que ser traduzido como "que governa" ou "que tem autoridade", mas as traduções da ARA e da NVI parecem optar pelo entendimento de que não se trata de supervisão administrativa, mas de serviço subordinado, semelhante a governança.
Caso entendêssemos que prostatis significa autoridade e governo, teríamos que concluir que Paulo estava sob a autoridade de Febe, algo inconcebível para quem conhece o Novo Testamento e um pouco da cultura judaica de então.
O fato de em I Tm 3.11 constar menção a mulheres (gunes) pode se referir às esposas dos diáconos ou presbíteros ou às mulheres diaconisas - mas isto não pode ser comprovado nem, se comprovado, habilitaria a dedução de que Febe foi diaconisa.
É oportuno citar essa passagem do Novo Comentário da Bíblia (p. 1183) a respeito de Rm 16.1-16):
"Dos nomes desta lista histórica [galeria de crentes em Rm 16], um terço é de mulheres, a revelar o lugar proeminente que elas ocupavam na igreja de Roma. Paulo foi pioneiro do reconhecimento da função das mulheres no serviço cristão, e sua atitude tem sido muito mal compreendida neste particular".
Em seguida, o NCB trata de Febe:
"O testemunho que dá de Febe (1,2) é honrosíssimo. É apresentada como irmã, isto é, da família espiritual do Senhor, sugerindo igualdade de privilégios na irmandade, como serva da igreja em Cencréia, isto é, diaconisa (Fil. 1.1), e como protetora (gr. prostatis, "patrocinadora"), a implicar que era uma senhora de recursos, que trabalhara no meio da população das docas, no porto de Corinto. Acredita-se que Febe estava de viagem para Roma e Paulo confiou aos seus cuidados esta preciosa epístola, para que a fizesse chegar com segurança ao seu destino".
Nessa esteira, a Bíblia de Jerusalém afirma em nota de rodapé que Febe era "certamente a portadora da carta", e a chama de diaconisa (p. 1990).
Com todo o respeito, e salvo melhor juízo, embora o termo diakonos possa ser traduzido como diaconisa, o problema semântico - serviço técnico ou serviço geral - exige que a tradução seja mais cautelosa, trazendo o sentido de "serva", à míngua de outros elementos. Além disso, a hipótese de ter sido Febe uma mulher de recursos, patrocinadora de atividades da igreja, pode até mesmo afastar a diaconia na acepção técnica. No mais, são especulações.
Sopesadas todas essas informações teológicas, cumpre observar que não temos a pretensão de defenestrar o trabalho feminino nem de desmerecer os feitos de mulheres que muitas vezes tomam a frente de atribuições para as quais faltam homens. A questão aqui é estudar a vocação de Febe, e isso passa pelo problema da ordenação de mulheres, ponto sempre suscitado quando se cuida de Rm 16.1,2.
Entendemos que a Bíblia interpreta a si mesma. Se a Bíblia se cala quanto a detalhes que gostaríamos de conhecer, não nos cabe tentar suprir essa suposta "omissão", pois a Palavra de Deus não deixa a desejar. Tampouco podemos praticar a tal eisegese (diferente da exegese), incutindo no Texto Bíblico aquilo que nos interessa, como fazem, neste caso, alguns que procuram sustentar o direito de ordenação das mulheres ao ministério episcopal.
Por outro lado, o que importa é reconhecer em Febe como que a precursora de tantas e tantas mulheres crentes neste e em outros países, que oram, jejuam, frequentam assiduamente os cultos, participam na Assembleia de Deus dos tradicionais Círculos de Oração, ou das Sociedades Femininas da Igreja Presbiteriana, ou de tantos outros organismos e atividades das igrejas espalhadas pelo mundo. No Brasil, as mulheres são maioria nas igrejas, fato empiricamente observado. São elas que sustentam as atividades de visitação, dirigem cultos de missões, preenchem a maioria das cadeiras dos corais, formam os grupos de senhoras, cumprem, enfim, o seu ministério.
Febe é vocacionada, sim. Ela cumpre a sua missão. Protege, cuida, administra, serve, hospeda. Se ela não fosse tão especial, não mereceria esse destaque dado pelo Espírito Santo, pelas mãos de Paulo.
Reconhecendo o trabalho de Febe, Deus reconhece o trabalho de todas as mulheres cristãs.
Nota: utilizei várias informações extraídas do endereço http://www.scribd.com/doc/3009693/Febe-era-Diaconisa.
Também: Novo Comentário da Bíblia (NCB), São Paulo: Edições Vida Nova, 1963, V. II, p. 1183.
Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 1998, p. 1990.
3 comentários:
Concordo que o onus probandi está com os defensores da ordenação feminina - e que árdua tarefa eles têm!
Com respeito ao ofício do diaconato, não veria muitos problemas "técnicos" pois não vejo o diaconato como função de governo, mas de serviço. Reconheço, contudo, que a Bíblia não é clara sobre isso, como você bem demonstrou. Já reconhecer mulheres como presbíteras, a Bíblia realmente não dá margem alguma, pelo contrário. Vai até além, e as proíbe de ensinarem e de exercerem autoridade sobre homens. A questão não é de capacidade - há as que pregam muito melhor do que determinados pastores homens, nem de dedicação, mas de ordenação de Deus. Muito politicamente incorreto nos nossos dias, mas ou se aceita a revelação bíblica ou se cai naquela de sair por aí escolhendo quais passagens teriam "viés cultural", quais seriam aceitáveis e quais não... Fico com os reformadores. Sola Scriptura!
Prezado Alex, gostaria de acrescentar o seguinte: as prostatis eram mulheres que exerciam a liderança em comunidades judaicas onde não haviam homens. Elas lideravam o cântico nas sinagogas e faziam as leituras da Torá.
Pessoalmente, sou favorável à ordenação feminina, não faria, entretanto, alguma gestão junto aos orgãos assembleianos, por conhecer a posição de nossa denominação. A Bíblia não proíbe a ordenação feminina. É a lente judaica que oblitera o papel da mulher na história e na Igreja.
Descrevo em maiores detalhes a problemática nos seguintes posts:
Post 1 - http://daladier.blogspot.com/2008/02/o-ministrio-feminino-bblico.html
Post 2 - http://daladier.blogspot.com/2008/05/ainda-sobre-ministrio-feminino.html
Post 3 - http://daladier.blogspot.com/2008/06/falcias-sobre-o-ministrio-feminino.html
Post 4 - http://daladier.blogspot.com/2008/05/como-as-mulheres-foram-liberadas-para.html
Artigo muito esclarecedor e equilibrado, em sintonia com a perfeita Palavra de Deus.
parabéns, e que o Senhor continue lhe dando sabedoria.
Wellington Leal
http://reieterno.blogspot.com
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