O apóstolo Paulo recomenda o levantar mãos santas no culto público (I Tm 2.8). Trata-se de um gesto de adoração, nada mais que isso. É como um símbolo, que não guarda em si nenhum valor se não estiver ligado ao significado da adoração. Mas nem todos entendem assim...
Digo isso porque tenho visto que, no momento da chamada "bênção apostólica", ao final dos cultos, os irmãos estendem suas mãos como que para receber alguma coisa, pondo-as com as palmas para cima e os dedos levemente encurvados, formando uma concha. Parece que, em sua concepção, a bênção proferida pelo líder (pastor etc.) irá recair ali em suas mãos, porque dispostas receptivamente.
Pode parecer radicalismo meu, mas não é. E se o (a) leitor (a) achar que sou radical, peço vênia, então, para continuar com esse ponto de vista. Entendo que toda espécie de misticismo deve ser afastada de nossa seara.
Afinal, por que relaciono o gesto acima referido com o misticismo? Faço isto porque o misticismo, grosso modo, pode ser definido como todo tipo de crença segundo a qual o Ser Humano se coloca em contato direto com a Divindade por meio de rituais, contemplação ou gestos, sem a necessidade de um mediador. Com isso, no caso em tela, seria místico o gesto de colocar as mãos em forma de concha para "receber a bênção".
A bênção, na verdade, é dada por Deus em Cristo. Toda forma de bênção, como as espirituais, vêm de Deus em Cristo (Ef 1.3; Tg 1.17). Nada há que eu possa fazer com o meu corpo para ser abençoado, nem com a minha alma ou o meu espírito. É Deus quem abençoa, e pronto. Ele é Soberano, Providente e Previdente, Doador da Vida, Gracioso, Misericordioso e Benigno. Justo, Verdadeiro e Galardoador dos que O buscam. Toda bondade e toda benignidade pertencem a Deus e nada poderemos fazer para sustentar nossas reivindicações ou amparar nossas queixas contra Deus, ou, ainda, para recompensar Suas dádivas.
Bem por isso, é vão e simplório o gesto de levantar as mãos em forma de concha para receber bênçãos colocadas supostamente por anjos ou, quiçá, pelo próprio SENHOR. Por mais que isso seja aparentemente pequeno dentre tantas coisas que se infiltram no código de fé das igrejas, é bom separarmos a Fé Comum, dada a todos os santos, da fé popular disseminada não raro por líderes sem preparo ou sem cuidado.
Deus nos ajude.
3 comentários:
Grande apologista (OU APOLOGETA) nao sei o termo apropriado mas creio que entendeu
Fico pensando nesta questao da bençao apostolica e chego uma conclusao que ela esta apenas em 2 corintios no fim da carta e nao vi em nenhuma outra o mandamento de os pastores que nao sao apostolos ministrarem essa bençao
Seria apenas mais um costume nao biblico inofensivo ?
Cade os apostolos para ministrarem esta bençao ?
a igreja primitiva praticava ao fim dos cultos ou reunioes ?
Se praticava todos os presbiteros eram apostolos ?
AS perguntas acima sao apenas reflesoes que tenho de vez em quando
www.exejegues.blogspot.com
Prezado Francisco:
Em diversas Epístolas de Paulo, há votos como "a graça seja convosco" ou "a graça seja com o vosso espírito". Como você disse, a fórmula da chamada "bênção apostólica" ocorre apenas em I Co. Há um livro, creio que não traduzido para o português, intitulado "Roma en nuestro culto", que, segundo um irmão que gosta desses temas, trata do costume da bênção apostólica como uma herança católica. Gostaria de ler esse livro. Mas, de qualquer sorte, sua reflexão coloca um "plus" ao que eu critico no texto, pois menciono o problema da maneira como os irmãos dispõem suas mãos, e você, com acerto, pensou na própria bênção apostólica. É por aí mesmo. Um abraço.
Já fiz parte de denominação que ensinava que só os pastores "devidamente ordenados" podiam ministrar a ceia, o batismo e, pasmem, a bênção apostólica, coisas que denominavam de "atos pastorais". É interessante - na ótica deles, a Grande Comissão tal como anotada em Mateus 28 deveria ser dividida em duas partes: Ir e pregar a todo o mundo, sim, era para todos os crentes. Já "batizando-os em nome do Pai..." só para os "pastores regularmente ordenados". Não sei qual exegese consegue dividir o versículo assim, uma parte para todos, outra para alguns... E a tal denominação apregoava ao mundo que a reforma protestante havia restaurado o "sacerdócio universal de todos os crentes". Ora, não digo que não haja lugar na igreja para presbíteros e diáconos, e ninguém diria que eles têm funções pastorais, de ensino, de supervisionar e governar, de disciplinar o rebanho etc. Mas em lugar algum das Escrituras há lógica que exclua um "leigo" de ministrar a Ceia ou de batizar alguém. Evidentemente que a liderança da igreja deve concordar, deve poder antes averiguar se o candidato ao batismo realmente foi convertido ou não. Não digo que qualquer um pode sair por aí, batizando a torto e a direito, independentemente da liderança da igreja, mas daí a proibir "leigos" de ministrarem o sinal é ir longe demais. A situação que se criava era esdrúxula - o "obreiro" (leigo, seminarista, o que fosse) podia fazer visitas, evangelizar, ser perseguido na comunidade, pregava, orava, jejuava, ganhava almas arduamente, dava o "curso de batismo", mas na hora de batizar, só quando o "pastor titular, da sede" viesse.
Polêmicas à parte, concordo totalmente com a crítica ao misticismo evangélico, que a cada dia aumenta. Hoje em dia veem-se verdadeiras "pajelanças evangélicas" na forma de rituais, desnecessarío dizer que são extrabíblicos, para "quebrar maldições" depois que a pessoa se converte. Ou seja - Cristo libertou só pela metade, ficou faltando alguma coisa para nós fazermos... Nunca li de Paulo ou de nenhum apóstolo "quebrando maldições e rompendo pactos". A conversão genuína é a única e total quebra de todas as maldições. O sujeito pode até não entender tudo o que se passou ao ser regenerado, mas que está verdadeiramente livre, está.
Com respeito à "bênção apostólica", a Bíblia não a "prescreve" - tal como ordena o batismo ou a Ceia. No Antigo Testamento, pelo contrário, a chamada "bênção aaraônica" foi prescrita por Deus até nas palavras - veja o detalhe, em Nm 6.23 "assim abençoareis". No Novo Testamento não há ordem nestes termos, há apenas o exemplo de Paulo. Mas daí a proibir, acho que seria tão "fora" como proibir o Natal.
Postar um comentário