Recebi o e-mail de um irmão internauta chamado Darcy Goulart, nos seguintes termos:
"Lendo os seus blogs, geralmente me identifico com as suas posições teológicas e até com outros assuntos, às vezes. Felicito-o, não meramente pela identificação, mas porque acho que a Igreja de Cristo precisa de servos de Deus que exponham com clareza a sã doutrina.
Se for possível, bem que gostaria de, um dia desses, ouvir a sua opinião sobre o seguinte:
Pensando em Sócrates, Platão e Aristóteles, homens que viveram entre 400 e 300 a.C., sou levado a pensar em milhões (não tão ilustres) que também não tiveram a chance de conhecer Jesus Cristo e seu evangelho.
Também em nossos dias existem os que não ouviram pregadores do evangelho.
Sei que o julgamento de Deus é de instância realmente muito superior, mas às vezes ousamos algumas reflexões a respeito. Como ficarão as multidões que não tiveram alguma oportunidade? Há discussões por aí, inclusive a APMB* na publicação ?O Que Será Dos Que Nunca Ouviram??(Edições Vida Nova).
Não posso esquecer de Atos 17:30: ?Deus, não levando em conta o tempo da ignorância...?. O ?não levando em conta? o que significou para aqueles?
DAG, em 01 de abril de 2010".
O questionamento de Darcy é um dos mais importantes da teologia, a meu ver. De início, podemos afirmar que o fato de existirem milhões ou bilhões de pessoas sem acesso ao Nome de Jesus deve ser motivo suficiente para um impulso à obra missionária transcultural. O Islamismo é, sem dúvida, nosso maior desafio, pois ele toma de assalto nações e impõe a fé em Alá e em seu "profeta" Maomé. Não é por convencimento, mas pela espada, pela força. E isso dificulta em grande medida o avanço do Evangelho em muitos países.
Um ponto aqui é fundamental: o pecado universal não reside em não se ter ouvido falar de Jesus, mas em viver como se Deus não existisse, apesar da Revelação Geral - pelas coisas que foram criadas - e que manifesta a glória e as virtudes do SENHOR. Todos são pecadores, todos se extraviaram, todos se distanciaram de Deus, todos escolheram o fruto proibido, todos carregam a pecaminosidade adâmica, todos cometem pecados porque são pecadores - e não o contrário: ser pecadores porque cometem pecados.
De certo modo, é como se estivéssemos predestinados ao inferno e Deus, por meio de Seu Filho Jesus Cristo, houvesse interrompido o fluxo que leva do pecado à morte eterna. Não creio na predestinação calvinista, mas, uma vez sendo seres humanos, todos somos condenados ao inferno, até que Jesus manifeste Sua providência e por Sua graça nos salve. Pela fé, em arrependimento de pecados, somos alcançados por Deus em Cristo. Adão é um nome coletivo. Em Adão, todos nós pecamos. Há uma solidariedade nisso, uma comunhão entre Adão e a Humanidade.
Textos especiais para esse tema são os que seguem:
Sl 19.1 - "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos". Esta é a Revelação Geral, diferente da Revelação Especial (Hb 1.1-4).
Sl 14 e 53 - "não há quem faça o bem", "todos se extraviaram". A pecaminosidade é universal, uma condição da "raça humana".
Rm 1.18-6 - de maneira clara, Paulo ensina que todos os homens, judeus e gentios, são "indesculpáveis". O que eles fizeram para receberem culpa? Desprezaram o conhecimento natural de Deus. Em suma, é isso. Perversões sexuais acabaram acontecendo como espécie de juízo divino, pois Deus entregou a Humanidade a seus próprios instintos, e assim todos ficaram sem freios, indo até onde quisessem. Não posso deixar de citar a Queda, quando Adão e Eva preferiram comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal (Árvore Ética) e, com isso, mostraram seu desejo de emancipação, de independência em relação a Deus. Quando pecamos - e todos pecam - reproduzimos esse desejo de vivermos as nossas próprias escolhas éticas. Esse é um fato comprovado pela experiência universal.
Antes de passarmos ao exame daqueles que nunca ouviram sobre Jesus, precisamos admitir, sem nenhuma vacilação, que todos igualmente pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Rm 3.23 e 6.23), e merecem a morte eterna, como Adão e Eva, que pecaram e se separaram de Deus. Se não entendermos o pecado como sendo um erro gravíssimo de nossa escolha pessoal, não poderemos admitir que pessoas não-evangelizadas sejam condenadas ao inferno. Elas merecem o inferno porque inferno é ausência de Deus, e, então, ir para o inferno sem Deus é explicado logicamente, assim como ir ao encontro de Deus tendo o Espírito de Cristo em nosso ser.
Todavia, haverá distinção no julgamento, e cada um receberá a condenação na medida do seu conhecimento de Cristo. A quem mais for dado mais será cobrado. Em Mt 11.20-24 e Lc 10.13-15, Jesus deixa isso muito claro: as cidades de Tiro e Sidom serão alvo de pena menor que as cidades de Corazim e Betsaida, assim como Sodoma em relação a Cafarnaum. Por que isso ocorrerá? Porque Tiro, Sidom e Sodoma, embora terríveis, não testemunharam os milagres realizados por Jesus em Cafarnaum, Betsaida e Corazim. E Jesus chega a afirmar que aquelas cidades pecadoras seriam salvas se houvessem presenciado os milagres! Mesmo assim, sofrerão algum rigor, mesmo que menor. Isso decorre do pecado universal.
A mesma lição se depreende de Tg 3.1, em que o irmão do SENHOR ensina que os mestres sofrerão "mais duro juízo". Isso ocorrerá porque tiveram maiores chances. Deus não é injusto.
A mesma lição se depreende de Tg 3.1, em que o irmão do SENHOR ensina que os mestres sofrerão "mais duro juízo". Isso ocorrerá porque tiveram maiores chances. Deus não é injusto.
Façamos um raciocínio hipotético: se admitíssemos que os não-evangelizados são inocentes por não terem ouvido falar de Jesus, seria melhor Jesus não ter vindo ao mundo. Assim, não seria preciso evangelizar, e, não evangelizando, ninguém que ficasse de fora iria ao inferno. Mas esse raciocínio é falho porque, como eu disse no início, o pecado universal não é deixar de atentar para a Palavra de Deus, mas deixar de reconhecer a Deus como SENHOR.
Quanto a At 17.30, a afirmação de que Deus não leva em conta os tempos da ignorância significa que Ele oferece possibilidade de perdão a ponto de apagar todos os males e tornar justificado o pecador.
Quanto a At 17.30, a afirmação de que Deus não leva em conta os tempos da ignorância significa que Ele oferece possibilidade de perdão a ponto de apagar todos os males e tornar justificado o pecador.
Não é um tema fácil, mas, pelo que entendo do que está escrito, essas são, em resumo, as balizas nas quais podemos estar com firmeza, sem especulações. De resto, é evangelizar e abreviar a volta de Jesus.
Nota: APMB é Associação dos Professores de Missões no Brasil.
Nota: APMB é Associação dos Professores de Missões no Brasil.
Um comentário:
Os ímpios não são condenados por nunca terem ouvido o evangelho, mas por serem ímpios, por serem pecadores impenitentes. "Se, pois,não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis" - isso foi dito ao povo hebreu por Jesus, quanto mais não valerá para os gentios.
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