Assisti a pequenos trechos dos discursos de Dilma Rousseff e José Serra neste dia de desincompatibilização dos cargos. Mesmo assim, deu para ver um aspecto com muita clareza: ainda que José Serra não seja um manancial de simpatia e carisma, ele fala muito melhor que Dilma. Muito melhor.
Sem dizer expressamente que é candidato, José Serra o disse de outra maneira: falou em "nova etapa" e no Brasil. Criticou indiretamente o Governo Lula, que convive tranquilamente com a desonra. Foi incisivo, assertivo. Demonstrou que, embora tenha o semblante carregado e o perfil de "rolo compressor" da política, pode fazer diferença na campanha devido à boa oratória.
Certo dia, assistindo a um excelente programa do repórter Kennedy Alencar no site da Rede TV!, vi a entrevista com o senador pernambucano Sérgio Guerra, que é presidente do PSDB. Ele disse uma coisa interessante, mais ou menos assim: "Tasso [Jereissati], depois de ouvir o discurso da Dilma [na Semana da Mulher, no Senado] me disse: 'Eu estava preocupado com o Serra, não estou mais'". E o próprio senador Sérgio Guerra emendou: "Porque, cá para nós, a Dilma é muito ruim".
A Sra. Dilma Rousseff não tem nenhum carisma. É uma tecnocrata egressa da luta armada brasileira. Jamais disputou uma eleição e não sabe fazer discursos. Suas falas são recheadas de números, de power points, como aquelas aulas chatas na Universidade. Ela não discursa; dá palestras e prestação de contas. Um líder precisa falar bem. Nisso o seu mentor Lula, que não gosta do bom português, é mestre: ele sabe falar com as massas - embora eu não goste do seu estilo de oratória. Mas ele sabe, sim, falar com o povo. Dilma, não.
Bem por isso, entendo quando analistas dizem que a campanha pode mudar tudo. É nos debates que se testa o candidato. Já pensou se a Sra. Dilma responder aos adversários ou jornalistas com um sonoro "meu filho?", como costuma fazer com os que lhe fazem perguntas que a irritam?
A voz atribulada de Dilma Rousseff não combina com o pedido de votos. Não quero ser intimidado a votar em alguém. Quero ser convencido.
Dos quatro pré-candidatos mais importantes, Ciro Gomes é, sem dúvida, o que fala melhor. Inteligente, abre a boca e as palavras vão saindo em profusão.
Todavia, não temos, nem de longe, um Barack Obama. E faz falta, viu? Faz falta aquele político que sabe conscientizar, convencer, fazer boa política, falar ao coração do povo sem mentir. A oratória não deve ser desprezada. As pessoas gostam de ouvir boas palavras, que reflitam a realidade e as intenções verdadeiras. As pessoas precisam de um líder que tenha carisma e caráter.
Infelizmente, caráter não se tem visto com fartura na praça, e até no carisma quem passa passa raspando.
Um comentário:
Não concordo que o Ciro fale bem. Pode até falar melhor do que a Dilma, mas tem um sério defeito - é desbocado, tem descontrole emocional. É muito fácil tirá-lo do sério, e os adversários sabem disso. A coisa é tal que até foi cogitado ser lançado candidato exatamente por isso - para fazer o papel sujo de falar mal dos outros, de bater, de agredir, poupando a Dilma dessa tarefa suja. Ele faria uma candidatura de mentirinha, sem falar mal dela, falando mal do Serra e de qualquer outro que seriamente ameaçasse o PT. Ela sairia como a boazinha na história, numa tentativa de repetir 2002 - quando se viu o "Lulinha paz e amor".
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