sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Artigo sobre a prática de ofertar esperando recompensas

Refutando a equação dinheiro + fé = prosperidade material
Vem se repetindo em igrejas evangélicas a prática de pedir dinheiro às pessoas, e até mesmo bens, sob o argumento de que dízimos e ofertas constituem um investimento no mundo espiritual, com repercussão positiva em termos financeiros e profissionais. Dito de outro modo, é como se houvesse uma lei da semeadura militando em favor do enriquecimento ou enaltecimento social de quem contribui financeiramente com a igreja.
Trata-se de um dos engodos da Teologia da Prosperidade, relacionada intimamente à Confissão Positiva. Importado por líderes neopentecostais, e com amplo espaço na mídia, o ensino materialista norte-americano tem se infiltrado em igrejas, modelando pregações e ministérios, para tristeza dos crentes que ainda conhecem as bases da Fé Cristã.
A Confissão Positiva consiste em declarar ou, como eles dizem, profetizar bênçãos e vitórias, tomar posse, tudo no sentido de uma apropriação de bênçãos supostamente prometidas por Deus, a partir da verbalização ou confissão de fé. Ocorre que essa fé nada tem de fidelidade à Palavra de Deus, definindo-se, isto sim, como uma espécie de dispositivo que ativa poderes ou leis universais. Se para Abraão foi necessário crer nas promessas e palavras de Deus, para o triunfalista o que importa é dizer o que ele quer que aconteça, para que o bem se torne realidade.
Um dos textos mal empregados pelos divulgadores da suposta lei da semeadura financeira encontra-se em II Co 9.6, quando Paulo afirma que “aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará”. Isoladamente, e num culto que destaca as ambições materialistas, até pode parecer que esse versículo fundamenta o espírito de barganha com Deus.
No entanto, à luz do ensino do Novo Testamento, não há que se cogitar, absolutamente, de nenhuma equação de feições mágicas, à semelhança das receitas sugeridas pelos feiticeiros àqueles que procuram qualquer tipo de benesse.
Para entender o texto em comento, cumpre observar o contexto, situado nos capítulos 8 e 9 da mencionada Carta. Ali, Paulo está se referindo à coleta de donativos para os irmãos pobres da Judéia, algo que estava sob sua responsabilidade, com a colaboração de alguns homens da Igreja, e em face tanto dos coríntios como dos macedônios. Assim, o que prepondera na passagem é o interesse pelos pobres, a assistência social, a ajuda a quem precisa, longe de intentos mesquinhos de satisfação pessoal.
Os próprios macedônios haviam colaborado estando “no meio de muita prova de tribulação” e “profunda pobreza”. Em contraste à sua tribulação, “manifestaram abundância de alegria”; e a “profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade” (8.2). Assim, vê-se que circunstâncias objetivamente difíceis não são obstáculos para virtudes como a alegria e a generosidade, atitudes valorizadas pelo apóstolo.
Mais do que isso: os pobres macedônios mostraram-se voluntários “na medida de suas posses e mesmo acima delas” (8.3), a ponto de pedirem, “com muitos rogos”, que lhes fosse permitida “a graça de participarem da assistência aos santos”. Para aqueles crentes, ajudar aos outros era uma bênção, uma graça de Deus. Não estavam pensando em si, não queriam recompensas – a generosidade que se paga não é real.
Antes de doarem coisas, os macedônios doaram suas próprias vidas, primeiro a Cristo, depois aos apóstolos, “pela vontade de Deus” (8.5). Havia, sim, uma entrega sacrificial, muito mais do que uma entrega de dinheiro ou bens.
Os coríntios foram elogiados por Paulo como tendo “presteza” e “zelo” na arrecadação de contribuições para os pobres, já que desde o ano anterior haviam se prontificado a tomar parte no projeto assistencial.
Em sua eleição de virtudes, em detrimento de pecados, o apóstolo afirma que a contribuição deveria ser expressão de generosidade, e não de avareza. É muito oportuno que Paulo contraponha avareza e generosidade na administração de bens materiais, uma vez que uma coisa pode ser exteriormente boa para o próximo, mas motivada por sentimentos egoísticos.
Desse jeito eram as orações a que se refere Tiago em sua Carta, pois os irmãos a quem ele escreveu pediam coisas a Deus para gastarem em seus próprios deleites. Portanto, mesmo as orações podem ser demonstrações de egoísmo, se o conteúdo não corresponder aos desígnios de Deus.
Ao estabelecer a lei da semeadura, Paulo está ensinando que, em linhas gerais, o bem que se faz no Reino de Deus surtirá efeitos positivos para o próprio Reino. Assim é que aquele que contribui com alegria, segundo o que tiver proposto em seu coração (9.7), irá “abundar em toda graça” pela ação de Deus, e, uma vez possuindo “ampla suficiência” em todas as áreas, os crentes irão superabundar “em toda boa obra”.
Quer isto dizer que a bênção prometida nessa lei da semeadura implicará em abençoar os outros e não ter carências por causa disso. O Deus que supre as necessidades fará com que os abençoadores sejam abençoados e possam abençoar cada vez mais. As boas ações produzirão frutos de justiça (cf. 9.10), igualmente àquele justo do Sl 112.9, citado por Paulo: ele distribui, dá aos pobres, e a sua justiça, como virtude, permanece.
O que importa realmente é a capacidade de doar sem esperar nada em troca, sabendo que as reais necessidades de quem doa serão satisfeitas em sua exata medida.
Paulo utiliza, sim, a palavra “enriquecendo-vos”, mas quanto a “toda generosidade”, a fim de que sejam tributadas graças a Deus (9.11).
Creio, porém, que o objetivo da contribuição fica ainda mais claro nos versículos 12 a 14: o serviço da assistência social supre a necessidade dos santos e faz com que os beneficiários glorifiquem a Deus pela obediência dos doadores a Cristo, confirmando, assim, sua confissão de fé. Destarte, lançam-se fora todas as demandas individualistas, pois um dos objetivos é ajudar aos pobres, e o outro é glorificar a Deus.
Os canais de bênçãos, que são os crentes doadores, não estão preocupados em se tornar ricos, “prósperos”, “vitoriosos”, vocábulos mui freqüentes nos lábios dos crentes materialistas. Deus será louvado pela obediência e pela liberalidade. À falta dessas virtudes, não haverá motivo para valorizar quaisquer condutas pretensamente benfazejas.

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