Por causa da pregação antropocêntrica do movimento neo-pentecostal, direcionada exclusivamente à realização de sonhos e à satisfação de interesses materiais, eu tenho falado, sempre que possível, da necessidade de nos precavermos contra esses ensinos, que não se coadunam com o que Jesus Cristo nos propõe.
No entanto, vale frisar que é necessário ter sonhos, porque são eles que nos impulsionam a viver. Os sonhos têm que ver com a esperança.
Mas é importante sonhar com coisas dignas, e de vez em quando refletir sobre a nossa motivação ao sonhar.
Por exemplo, o pastor batista americano MARTYN LUTHER KING era um sonhador. Em seu célebre discurso, intitulado justamente "I have a dream" ("Eu tenho um sonho"), ele falou do sonho de igualdade entre negros e brancos nos Estados Unidos. Por isso, ele foi considerado um grande defensor dos direitos civis americanos, tão caros àquela Nação.
José, filho de Jacó, tinha sonhos. No seu caso, eram sonhos dados por Deus, que lhe mostravam seu futuro destaque entre seus irmãos e pais, tanto que Jacó logo entendeu o significado (Gn 37.10 - "Acaso viremos, eu e tua mãe e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra"?). Imagino que, fiel como era, José tomava esses sonhos como motivo de esperança em meio aos mais duros golpes da vida (ser vendido pelos próprios irmãos, ser acusado injustamente de atentado ao pudor, ser preso por vários anos sem causa justa, ser esquecido por alguém que poderia testemunhar em seu favor). José sonhou de acordo com o que Deus lhe dera, e soube se conduzir conforme os seus sonhos.
Moisés tinha esperança de que seu povo seria libertado, e por suas mãos. Em sua brilhante defesa, Estêvão disse que Moisés "cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus os queria salvar por intermédio dele; eles, porém, não compreenderam" (At 7.25). O autor aos Hebreus escreveu que "Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado, porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão" (Hb 11.24-26). Moisés esperava a libertação do povo hebreu e sonhava com o galardão.
Paulo sonhava com "o alvo", com o "prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp 3.14). Enfim, ele sonhava com a ressurreição dos mortos e com a perfeição (Fp 3.11). Esses sonhos de Paulo explicam quão incansável foi o seu trabalho, quão dedicada foi a sua busca pelas coisas concernentes ao Reino de Deus, quão santificada foi a sua vida em todos os sentidos.
De minha parte, também tenho sonhos, e alguns são de cunho pessoal. Minha esposa os conhece bem, algumas pessoas me ouviram falar algo sobre isso, mas é Deus quem conhece o meu coração e sabe o que Ele planejou para mim.
De fato, é necessário sonhar. Nossos jovens precisam sonhar. A geração que sonha é mais feliz. Diz o Salmo 126 que "quando o SENHOR restaurou a Sião, ficamos como quem sonha". Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes cousas o SENHOR tem feito por eles. Com efeito, grandes cousas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres" (vv. 1-3).
Infelizmente, não vejo uma geração sonhadora. Há muita gente pensando que sonha, mas, na verdade, simplesmente almejando coisas materiais, ascensão social e profissional. Talvez chamem isso de sonhar. Creio, porém, que não se deve gastar o sonho com coisas tão pequenas. Para as necessidades terrenas, há que se planejar. Para as bênçãos espirituais, ainda importa sonhar.
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