As esquerdas acham que têm o monopólio da razão, da ética e da defesa dos pobres. Sua ideologia tende a ser autoritária, porque não reconhece a legitimidade de discursos diferentes. Não gostam da imprensa, a quem chamam quase pejorativamente de "mídia". Não gostam da integração das minorias - apreciam, isto sim, sistemas de cotas para negros e reservas autônomas de índios. As esquerdas precisam da pobreza e do "imperioalismo ianque" para continuar vivendo, e gritam contra o Direito como se ele fosse o modelo jurídico das elites.
Olha, eu também não me iludo com a direita, seja ela uma direita católica, uma direita evangélica, uma direita policial ou uma direita dos coronéis. Não me iludo com ideologias que vendem a imagem de um mundo concebido sobre bases filosóficas. Tanto a direita como a esquerda estão erradas e certas ao mesmo tempo.
No entanto, escrevo sobre minha desilusão com as esquerdas porque já tive a impressão de ser um esquerdista, quando era mais jovem. Na verdade, parece-me que os professores eram, em geral, de esquerda. Entendo que, de certo modo, como nasci sob a ditadura militar, e cresci no período imediatamente posterior a ela, todo mundo que tivesse repulsa àquele regime era visto como meio esquerdista. Foi assim talvez que o sociólogo e senador Fernando Henrique Cardoso chegou à Presidência da República com aplauso de direitistas e esquerdistas, ainda que timidamente. FHC, é bom dizer, nunca foi de esquerda mesmo.
Vejo programas eleitorais na televisão: esquerdistas de partidos "operários" chegam ao ridículo de apregoar um trabalho de lutas sindicais, quando deveriam pedir votos para seu programa político. E, em vez de falarem dos problemas da cidade e de suas idéias para resolvê-los, candidatos a prefeito e vereador falam de direitos trabalhistas, luta de classes, conflito entre capital e trabalho, como se estivessem disputando alguma eleição federal!
Outro problema da esquerda é essa defesa de uma tal "diversidade sexual" que serve apenas para aprovar leis que criminalizam opiniões divergentes do homossexualismo, além de defender que homossexuais se casem, se exibam nas ruas com seus parceiros e adotem crianças. As esquerdas têm esse viés, digamos, anti-moral cristã, que acaba apoiando o aborto, o divórcio, a união civil de pessoas do mesmo sexo.
Quando não sabem resolver problemas internos, as esquerdas se voltam contra os Estados Unidos: vide Evo Morales, na Bolívia, e seu padrinho Hugo Chávez, na Venezuela. Ainda bem que o Presidente Lula, embora de um Partido de esquerda, não segue o caminho de seus colegas mais exaltados.
Esquerdistas são múltiplos, eu sei: há os comunistas viúvos da extinta União Soviética, bem como os trabalhistas e os socialistas. Eles convivem mal com a Constituição de 1988, que é social-democrata, e por isso vivem apedrejando o establishment.
A Constituição de 1988 é social-democrata porque contém direito de propriedade e função social da propriedade; livre iniciativa e defesa da concorrência e do consumidor; mercado livre e intervenção no mercado; liberalismo econômico e direitos trabalhistas; igualdade perante a lei e defesa das minorias, como índios, crianças, adolescentes e idosos. Esses são alguns lineamentos políticos que indicam o caráter social-democrático de nossa Constituição. Por isso, os marxistas se chateiam: eles querem a eliminação da propriedade privada, a ditadura do proletariado e, enfim, outra Constituição.
Esquerdistas gostam do regime de Cuba, admiram Fidel Castro, cujo (de)mérito foi criar uma sociedade em que todo mundo é igualmente pobre. Esquerdistas vêem o País dividido entre a elite e os pobres, e têm um discurso que divide, em vez de agrupar: pobres e ricos, negros e brancos, índios e brasileiros, homossexuais e homófobos. Daqui a pouco criarão um apartheid entre religiosos obscurantistas e não-religiosos inteligentes.
Portanto, não sou adepto desse autoritarismo de esquerda. Sou adepto da justiça e da democracia, que se constroem no diálogo, no processo, no coditiano. Nenhuma solução messiânica nos salvará.
2 comentários:
Só sou simpático às esquerdas pois acho a distribuição, ou melhor, a não distribuição de renda no Brasil, criminosa.
Eu recomendo fortemente um emocionante vídeo: http://es.youtube.com/watch?v=pJtlrYmZe6Y
Foi feito para fomentar uma maior aceitação social das crianças na Alemanha. Foi realizado por diversos meios de comunicação privados, dentro de uma campanha que contou com o apoio de personalidades da vida pública, apresentadores de televisão e esportistas que não cobraram cachê pela sua participação. Também receberam o apoio de importantes grupos editoriais e financeiros. Desde a liberalização do aborto no país os dados oficiais falam de quatro milhões de abortos, e não é leviano dizer que a cifra real seja o dobro. Este clima tem provocado que as crianças sejam valorizadas como um efeito não desejado do prazer sexual. Curiosamente, depois da campanha, a natalidade tem crescido na Alemanha.
Santiago Chiva (Granada, Espanha)
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