quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O Pragmatismo e a Igreja brasileira*

Segue um esboço da apresentação que meu grupo fez sobre o Pragmatismo na aula de Filosofia da Religião. Como eu disse, é apenas um esboço, e por isso deve ser lido como tal. Mas serve para entendermos a fonte de muitas práticas da Igreja brasileira de hoje. Qualquer semelhança não será mera coincidência.
Questão: Há Pragmatismo na Igreja? Como ele se dá?

Introdução.
Do grego, pragma significa “objeto”.
Pragmatismo, segundo o Dicionário de Teologia da Editora Vida
[1], é o “sistema filosófico em que toda verdade ou idéia tem conseqüências práticas, sendo esse o teste supremo de sua veracidade. Alguns pragmatistas acrescentam que não existem fontes transcendentais de verdade; portanto, a verdade e os valores são relativos, dependentes de sua utilidade tanto para os indivíduos como para a sociedade”.
Nasceu nos Estados Unidos e tem muito da cultura comercial americana.

Principais expoentes do Pragmatismo:
1) CHARLES SANDERS PEIRCE (1839-1914)
· PIERCE era filho de um célebre matemático, sendo ele mesmo dedicado à matemática e à lógica;
· Ele dizia que tinha hábitos mentais como de laboratório;
· Ele usava o método científico para esclarecer conceitos;
· Lendo A metafísica da moral, de IMMANUEL KANT, PEIRCE deparou com a distinção entre prática (leis morais) e pragmática (ciência e técnica);
· Assim, PEIRCE foi influenciado pelo Kantismo;
· “Na qualidade de lógico, estava interessado na arte e técnica do pensar real e, no que concerne ao método pragmático, especialmente interessado na arte de clarificar conceitos ou de construir definições adequadas e efetivas de acordo com o espírito do método científico” (JOHN DEWEY, O Desenvolvimento do pragmatismo americano, retirado da Internet em PDF);
· Ele viu uma “conexão indissolúvel entre cognição racional e propósito racional” (idem);
· Ensaio que apresentou o Pragmatismo: “Como tornar nossas idéias claras”;
· Para PEIRCE, um conceito está correto se em quaisquer circunstâncias possíveis e para todos os propósitos ele serve ao autocontrole. Cada fato particular deverá ser estudado pelo pragmatista com o intuito de entender se aquele conceito está sendo comprovado ou rejeitado;
· Segundo DEWEY, estão errados aqueles que dizem que o Pragmatismo coloca a ação como finalidade e que subordina o pensamento a fins de interesse e ganho particulares – para PEIRCE, cada fato particular servirá para demonstrar a adequação ou não do conceito.


2) WILLIAM JAMES (1842-1910)
· Influenciado pelo empirismo britânico;
· Educador e humanista;
· Mais nominalista do que PEIRCE;
· Enquanto PEIRCE queria extrair regras gerais (universais) das experiências, JAMES pensou no pragmático como sendo aquilo que é efetivo, concreto, o individual e particular;
· Escreveu sobre a aplicação do Pragmatismo a teorias filosóficas e religiosas, além de escrever sobre Psicologia, como no seu livro Princípios de Psicologia;
· Tratou, por exemplo, de conceitos como Materialismo e Teísmo, Monismo e Pluralismo;
· Obra importante (1898): Concepções filosóficas e resultados práticos;
· Entendeu que o critério da verdade não é a verificação nem a prova, mas a escolha que o indivíduo faz daquilo que lhe dará maior vantagem. Não existiria um critério absoluto, uma verdade absoluta, toda verdade seria provisória. O importante seria descobrir o quanto de benefício determinado conceito, crença ou religião dá ao indivíduo. Por isso, tem a ver com o relativismo;
· Não se preocupou com a origem do conceito, nem com sua essência, mas com seu valor, sua aplicação, sua utilidade;
· “Direito de crer” ou “vontade de crer”: cada pessoa tem o direito de crer naquilo que quiser, porque o que importa é a vantagem, a utilidade, o alcance do objetivo, da meta estabelecida; a pessoa já crê ou recusa alguma teoria ou doutrina porque fez escolhas pessoais anteriores;
· “A busca por fins futuros e a escolha de meios para alcançá-los são, portanto, a marca e o critério da presença de mentalidade em um fenômeno” (DEWEY citando os Princípios de Psicologia, de JAMES);
· A ciência não é construída de fora para dentro, mas o interesse, a necessidade de adaptação é que condiciona a ATENÇÃO, ANÁLISE E ABSTRAÇÃO, CONCEPÇÃO.


3) JOHN DEWEY (1859-1952)
· Criou o Instrumentalismo;
· Influenciado pelos Neo-Kantianos, depois se apoiou muito em WILLIAM JAMES;
· Entendia que a Razão, o Pensamento, a Inteligência é instrumento para a consecução de objetivos práticos, de valor;
· Defendeu o Pragmatismo contra as objeções de que seria mero reflexo do estilo de vida americano;
· Debruçou-se sobre aspectos biológicos de como o cérebro funciona, tomando de empréstimo teorias psicológicas como o Behaviorismo, de JOHN WATSON – o pensamento é visto como reação ao mundo exterior, e nisso vai modificando o ambiente por meio da inteligência, processos lógicos;
· Sujeito é o indivíduo; predicado é sua reação; cópula é a aplicação do conceito ao fato; conclusão é a modificação do ambiente a partir desse conceito pessoal ou social;
· Para os instrumentalistas, era importante estudar as formas, estruturas, operações lógicas do pensamento na determinação de conseqüências que determinam as escolhas das pessoas.

APLICAÇÃO:

· Podemos dizer que o Pragmatismo de WILLIAM JAMES foi mais pernicioso que o anteriormente ensinado por PEIRCE;
· Não podemos aceitar, como cristãos, que não exista um critério de verdade baseado na autoridade ou na prova, primeiro porque a Escritura é nossa autoridade normativa, segundo porque a hermenêutica e a exegese, tanto quanto a teologia sistemática, partem de provas racionais, de elementos objetivos, não dados à supremacia da subjetividade nem a interesses particulares;
· A Verdade é uma só, Jesus Cristo;
· A Bíblia é a Revelação da Verdade;
· Devido à Queda, nossas escolhas são decaídas também; logo, nossas idéias, doutrinas e teorias podem estar contaminadas por escolhas ruins, ou por uma carência, pelo próprio pecado, mas também purificadas em Cristo, por Sua Palavra e Espírito;
· Por outro lado, há pragmatismo na Igreja na medida em que a Pós-Modernidade tem sido caracterizada, entre outras coisas, pela busca desenfreada de felicidade, prazer, bem-estar, satisfação de interesses pequenos ou meramente individuais, egoístas.
· MAC DOMINICK vincula a Igreja com Propósitos, de RICK WARREN, ao Pragmatismo, pois entende a missão da Igreja em função da sensibilidade às necessidades e anseios das pessoas, e não à objetividade da Escritura;
· O pragmático não aprecia doutrinas, racionalidade, fé objetiva, tradições, ele entende que deve “quebrar paradigmas”, buscar novas estratégias de crescimento, alcance do maior número possível de pessoas e inserção social, mesmo que com desprezo a princípios bíblicos – aliás, esses princípios são alterados de acordo com o cliente.
[1] GRENZ, S.J., et ali, São Paulo:Vida, 2000, 142p.
Os autores citados tiveram seus textos extraídos da Internet. Mac Dominick tem o texto "Pragmatismo na Igreja: A Religião Orientada para Resultados".

Um comentário:

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Excelente esboço, Alex,

acho também que no balanço final entre perdas e ganhos, saímos perdendo com a influência do pragmatismo americano.

Há porém coisas boas. Quem dera se conseguíssemos ser tão pragmáticos a ponto de curar um cego de nascensa! Não podemos deixar-nos paralizar pelo medo sem nunca colocarmos os pés sobre as águas!

Em nossa cultura brasileira, tendemos a ser mais acomodados. Então o pragmatismo chega como "o remédio".

Ainda acho que falta-nos como brasileiros sermos mais ousados em exmperimentarmos nossos próprios caminhos com direito ao erro, ao acerto, à cultura, à arte, e descobrirmos nossas próprias razões de fé.

Obrigado, por seus textos que contribuem para isso.

Grande abraço fraterno,

Roger



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Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
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Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.