De uns dias pra cá comecei a ouvir um canto muito bonito de pássaro - é o sabiá-laranjeira, pelo que soube. Eu não entendo nada de pássaros, mas entendo de reconhecer o que é belo.
O sabiá canta todos os dias várias vezes ao dia. Seu canto é firme e naturalmente afinado. Fiquei pensando no motivo de sua aparição, e minha esposa sugeriu que tenha sido pelo corte de uma árvore da vizinhança, onde o sabiá devia ter sua morada. Desalojado, procurou nova habitação, e eis residindo nas copas próximas à nossa casa.
Então, pensei outra coisa: uma árvore teve que ser cortada para que nós pudéssemos ser brindados com um canto tão bonito, e que me faz achar que somos afortunados, bem privilegiados mesmo, no contexto urbano que anda longe dos prazeres bucólicos.
Assim como o sabiá e as árvores, sinto-me às vezes deslocado ou podado. Mas me sinto feliz com o canto serene e perene do alegre sabiá, que, se não canta na árvore de antes, canta agora aos nossos ouvidos, de tal maneira que não acredito ser digno de ouvir um canto dessa magnitude. Assim como não consigo acreditar que de vez em quando as araras campo-grandenses passam rasgando o céu azul bem diante de nossos olhos, no contexto nada bucólico e nada pantaneiro da cidade capital.
Um comentário:
Que texto bonito, Alex, de arrepiar, como o canto do seu amigo sabiá.
Me fez pensar que há 10 anos não ouço esse canto, nem do pássaro preto... me deu muitas saudades de nosso Brasil! Me fez entender o poeta um pouco mais o poeta exilado.
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