A edição nº 2077 da Revista Veja, de 10 de setembro de 2008, traz uma reportagem sobre as transformações por que passa a juventude evangélica brasileira, destacando a abstinência de drogas e sexo antes do casamento como aspectos que destoam do estilo de vida dos jovens comuns, ao mesmo tempo em que agregam costumes que há pouco tempo não eram próprios dos evangélicos.
A reportagem mostra que esses jovens têm sido guiados pelo anseio de prosperidade material e estabilidade familiar. Falam de sua conduta sexual e social com uma concepção puramente pragmática, porque entendem que fazer sexo antes do casamento não vai construir uma família, e que ser viciado só traz problemas. No entanto, percebi superficialidade e materialismo nessa visão de mundo, porque, antes do interesse utilitário, a abstinência tem fundamento bíblico, que em nenhum momento foi abordado.
Bola de Neve, Sara Nossa Terra, Universal do Reino de Deus e Assembléia de Deus foram as igrejas citadas, além da Congregação Cristã no Brasil, referida como a segunda maior igreja pentecostal.
A Bola de Neve aparece como uma igreja voltada para os jovens; a Sara Nossa Terra vem dando ênfase à prosperidade, e tem até um "Congresso Empresarial"; a Universal é citada como a maior igreja do segmento neopentecostal, e como a igreja que fomentou uma inovação no comportamento, uma "flexibilização de regras"; e a Assembléia de Deus aparece como a maior igreja pentecostal, além de ter uma de suas frequentadoras testemunhando a mudança de costumes que já lhe permite usar roupas mais modernas, porém decentes.
Como toda reportagem, há generalizações e hipóteses que careceriam de maior aprofundamento, mas não vejo nada na matéria que seja digno de repreensão a quem a redigiu. A repreensão vai justamente para esses jovens pragmáticos que não têm substância, que são materialistas, e que acham que o "melhor de Deus" é ascender socialmente.
Igrejas materialistas ensinam os princípios do Capitalismo Religioso, que ontem mesmo foi discutido numa aula que assisti de Filosofia da Religião. Colegas de minha turma apresentaram um trabalho sobre o tema, e exibiram os seguintes vídeos: a) reportagem do Fantástico sobre uma reunião-espetáculo da Renascer em Cristo, que foi ao ar depois de terem sido presos os seus líderes - o apóstolo e a bispa - com dólares não declarados, quando tentavam entrar nos Estados Unidos; b) reportagem do Jornal Nacional com o Edir Macedo ensinando seus asseclas a tirar dinheiro do povo; c) entrevista em que o Caio Fábio disse que o Silas Malafaia foi durante um tempo remunerado para falar mal dele na televisão; d) e uma participação do próprio Silas Malafaia no extinto 25ª Hora, falando mal da Globo, em apoio a um ataque engendrado pelo grupo da Universal.
Todos esses vídeos eu já havia assistido, mas foi muito oportuna a sua apresentação por nossos colegas ontem, e vêm muito a calhar no contexto dessa minha menção à reportagem de Veja.
Ora, a futilidade de jovens crentes que imitam o mundo é algo assombroso.
A reportagem de Veja tratou ainda do Brother Simion, um lugar de baladas para evangélicos em São Paulo, onde se pode dançar e beijar, mas sem beber, fumar nem "avançar o sinal"...Lugares como esse a gente costumava chamar de "inferninho".
Note-se que continuamos criando uma subcultura na sociedade, sem influenciar a cultura social. Se antes algumas igrejas mais tradicionais exigiam "cabelo na cintura" e "saia no pé" como atestado de santidade, hoje a subcultura continua em termos de imitação de costumes do mundo com adoção de posturas diferentes, preceitos "gospel". Não mudamos em nada no que toca ao principal - continuamos longe de salgar a terra.
Sei que não se pode generalizar, mas é importante mencionar que não se trata de um fenômeno isolado: a Universal do Reino de Deus é uma igreja que, segundo a Veja, teria 8 milhões de membros! Já essas novas igrejas neopentecostais são inúmeras, e são elas que têm atraído multidões de jovens para shows e conclaves materialistas e triunfalistas.
Para ninguém dizer que sou sectário e ufanista, afirmo sem receio que a Assembléia de Deus não está isenta disso: embora não haja pubs assembleianos nem congressos empresariais, a Teologia da Prosperidade tem se disseminado como praga em nossas paragens. Digo isso com convicção, como testemunha ocular (e auricular) da história.
Um comentário:
É mesmo, Alex, vc é assembleiano, cara!!
Quero começar a frequentar a Assembleia de Deus de Munique. Já estive lá alguns domingos.
Te confesso que isso tem me atormentado. Explico, a igreja é aqui perto de casa. Eles estão no mesmo prédio que nossa igreja pentecostal alemã, ambas fazem parte do bfp, a convenção pentecostal alemã. Me decidi a ir lá agora que minha filha está com 2 anos e precisa ter mais contato com a língua portuguesa (razões materialistas, eu sei...).
Mas aos poucos tenho visto um propósito de Deus nisso!
A tarefa não é fácil, sou diferente deles e eles de mim. Mas por outro lado, temos algo em comum muito forte que é sermos estrangeiros brasileiros (cristãos).
Quando lembrar ore por mim sobre isso. Quero me aproximar e integrar mais na AD sem me desvincular da igreja alemã. Vejamos o que vai dar isso...
Abrçs,
Roger
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