Sempre que ouço o argumento de que determinado grupo evangélico está certo porque seus métodos estão "dando certo", não posso deixar de pensar em como o pragmatismo tem feito mal à Igreja brasileira. Com efeito, em vez de se indagarem quais os princípios bíblicos que inspiram os métodos desse ou daquele grupo, afirma-se logo que aquilo está promovendo o "crescimento da igreja", o "sucesso do ministério". Com isso, dão-se por satisfeitos os pragmáticos.
Definitivamente, não pode ser desse jeito! Jesus nunca foi pragmático! Ele venceu o mundo com os valores revolucionários do Reino de Deus, insertos [=inseridos] no Sermão do Monte (Mt 5-7). Jesus mostrou, com diversas parábolas, discursos e outros pronunciamentos, o quanto o Reino dos Céus é diferente do reino das trevas, do mundo que jaz no maligno. No Reino de Deus o bom é chorar, apanhar e até morrer, em lugar de rir, bater e viver à custa da justiça e do bem. Jesus inverteu os valores mundanos. É isso o que eu chamo de inversão de valores.
Se Jesus fosse pragmático, Ele não agiria como agiu, não morreria numa Cruz. Faria tudo diferente. Talvez aceitasse a proposta de Satanás no dia da tentação no deserto (Mt 4). Mas Jesus vivia por princípios, e não por resultados.
Alguns argumentam que Paulo justificou o pragmatismo com o texto de Fp 1.12-18. Dizem que o que importa é que o evangelho seja pregado, mesmo que mediante porfia, inveja, discórdia ou insinceridade.
Ora, o que o apóstolo está afirmando é que, embora preso, considera as conseqüências positivas de sua prisão, porque o evangelho se tornou conhecido de toda a guarda pretoriana e de tantas outras pessoas, e porque a maioria dos irmãos acabou se encorajando a pregar a Palavra, vendo o seu exemplo. Paulo preferia valorizar o lado positivo do problema. E, enquanto havia os que pregavam o evangelho "de boa vontade" (v. 15), outros usavam de "inveja e porfia" (v. 15), e isso "por pretexto", não "por verdade" (v. 18). Alguns evangelizavam, falavam de Jesus, mas numa competição unilateral em que julgavam vencer o apóstolo Paulo.
Paulo não está elogiando esse pessoal. O que ele diz é como que um balanço de custo-benefício: se o nome de Cristo é mencionado por eles, tomo o mal por bem, e espero que Deus conceda Salvação aos ouvintes. De maneira nenhuma se pode aplaudir o trabalho de invejosos, competidores, ciumentos, briguentos, porque eles praticam as obras da carne, que combatem o fruto do Espírito (Gl 5.19-23). Paulo não os enaltece nem os admira.
Outro aspecto a considerar: uma coisa é pregar o evangelho cultivando sentimentos estranhos à Palavra de Deus; coisa diversa é pregar algo que não é a Palavra de Deus.
No caso em tela, o apóstolo está lidando com pessoas que, embora invejosas e competitivas, estavam pregando a Cristo, como no caso dos líderes dissidentes que criam ministérios com o mesmo nome da denominações de origem, por causa de divergências administrativas ou vaidade, e mesmo assim ainda pregam o evangelho de Cristo. Algo muito diferente é o que acontece com os falsos profetas, falsos mestres, auto-intitulados apóstolos, que acrescentam muitas palavras à mensagem cristã. Desses homens - e mulheres - Paulo não diria que estavam pregando a Cristo.
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