A Igreja Universal do Reino de Deus tem investido tenazmente contra a Rede Globo (e outros meios de comunicação). Dessa vez, munidos de uma emissora de grande porte (Rede Record), os bispos da Universal têm tentado mostrar que a Globo é preconceituosa quanto aos evangélicos.
Gostaria de fazer uma breve e singela análise do problema, nos seguintes tópicos:
- É fato que as novelas da Globo geralmente apresentam uma imagem parcial e generalizada dos evangélicos ou seus líderes, como se fossem fanáticos, tacanhos, hipócritas ou ladrões.
- Vou citar alguns exemplos: a) na novela América, uma personagem recente de Juliana Paes apresentava-se como evangélica, mas mantinha uma vida promíscua; b) o pastor estelionatário vivido por Edson Celulari na minissérie Decadência surgiu bem na época em que Edir Macedo ganhava notoriedade - sem falar na terrível cena da relação sexual dentro do salão da "igreja", focalizando-se a Bíblia etc.; c) agora em Duas Caras, uma mulher com jeito de débil mental, roupa parecida com as usadas por certos segmentos evangélicos, e uma Bíblia nas mãos, liderou uma agressão contra umas pessoas que mantinham um relacionamento amoroso considerado ilícito; d) em Tieta, a personagem de Lília Cabral aderiu a um grupo supostamente evangélico, e ficava falando "salve, aleluia, salve", com um comportamento estranho. Esses são alguns dos muitos casos que poderíamos pesquisar e mencionar.
- Em contrapartida, espíritas e homossexuais aparecem como bons moços, pessoas bem-resolvidas, que dão conselhos aos outros e conduzem relacionamentos estáveis - enquanto os casais heterossexuais vivem se separando, as duplas de gays vivem sem crises.
- É certo que existem evangélicos fanáticos, tacanhos, hipócritas e até mesmo ladrões, pessoas que se dizem seguidoras de Cristo, mas que não o são. No entanto, essa não é a regra dentre milhões de pessoas que professam a fé cristã e freqüentam igrejas evangélicas.
- Pelo contrário, a Globo trabalha com generalizações e estimula, sim, o preconceito, pois usa estereótipos que não condizem com a essência do estilo de vida evangélico.
- A maioria dos personagens evangélicos em programas da Globo são depreciados, e geralmente se mostram, deturpados, os costumes de alguns grupos, principalmente dos pentecostais, desprezando-se outros setores.
- A idéia que o público tem ao assistir esse repertório global é a de que os evangélicos são aquilo que está sendo mostrado. Afinal, não é a própria Globo que se orgulha de influir na sociedade ao fazer campanhas em favor de deficientes visuais, excepcionais, idosos e portadores de leucemia? Não é verdadeira a frase de que "novela é coisa séria"? Não seria, pois, uma contradição admitir que novela é importante para a conduta do espectador, e ao mesmo tempo dizer que não é bem assim?
- Por outro lado, há que se fazer uma ponderação: a) nós evangélicos não tínhamos nada que ficar assistindo novelas e minisséries da Globo, porque são produtos de baixa qualidade moral. Deveríamos fazer um jejum constante desse tipo de programa. O que ocorre é bem esquisito, já que a programação global é muito assistida por milhões de evangélicos, mas a Globo continua demonstrando cabalmente que não os quer como espectadores, pois fala deles como terceiros que merecem ser ridicularizados, como se nem fossem uma parcela importante da população. Com efeito, e graças a Deus, as novelas ainda não são feitas para nós! b) a Igreja Universal sabe ser evangélica quando lhe convém, usando reportagens para praticamente conclamar os evangélicos a uma "guerra santa" contra a Rede Globo, quando ela mesma não se acha tão evangélica assim. Explicando melhor: nos programas de rádio e TV, os bispos e pastores da Universal se referem aos espectadores dessa forma: "Você que é católico, evangélico, espírita ou livre-pensador, venha estar conosco...". Ora, se isso não for uma auto-exclusão do segmento evangélico, o que é então?
- Penso que não devemos cair no erro de defender a Universal em tudo. Não precisamos ser capitaneados pelo bispo Macedo, se nem eles mesmos se consideram - ou se comportam - como evangélicos, se a sua prática e ensino se divorciam tanto do que as igrejas históricas e pentecostais fazem há décadas ou séculos. Definitivamente, não precisamos dessa liderança, e não podemos nos submeter ao jugo dos poderosos "evangélicos" só para fugirmos do jugo global, ao qual nos sujeitamos por livre vontade.
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