segunda-feira, 12 de maio de 2008

Estudos no Apocalipse - Mártires, idólatras e imorais na mesma igreja local (2.12-17)

Jesus apresenta-se aos irmãos de Pérgamo como "aquele que tem a espada afiada de dois gumes". Essa metáfora já foi usada por João em 1.16, na visão do Jesus glorificado. Jesus tem a Palavra que penetra no coração do homem e disseca alma e espírito, pensamentos e intenções (Hb 4.12). É esse Jesus Onisciente que fala a Pérgamo agora.
Havia naquela igreja pontos positivos e negativos: dentre os pontos positivos, havia o fato de que, embora habitando um lugar em que estava "o trono de Satanás", os crentes conservaram o nome de Cristo e não negaram a fé. Naqueles dias morrera Antipas, um mártir, a quem Jesus chama de "minha testemunha, meu fiel". Antipas foi martirizado "onde Satanás habita".
Duas doutrinas, porém, perturbavam os irmãos em Pérgamo: a doutrina de Balaão e a doutrina dos nicolaítas.
A doutrina de Balaão é uma remissão à forma como o profeta Balaão ensinou o rei moabita Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel, para que comessem coisas sacrificadas aos ídolos e se prostituíssem (ver toda a história em Nm 22-24). Note-se que em At 15.29 a prostituição e o comer alimentos sacrificados aos ídolos são duas das quatro coisas que não deveriam ser praticadas pelos cristãos, de acordo com a decisão do Primeiro Concílio da Igreja, em Jerusalém. Estava mais do que claro que idolatria e relações sexuais ilícitas estavam fora do plano para a Igreja, mas alguns se infiltraram em meio ao povo de Deus e quiseram que houvesse idolatria e prostituição, fazendo disso uma doutrina.
Judas menciona esse ensino libertino em sua pequena Carta, dizendo de alguns falsos irmãos que "se precipitaram no erro de Balaão" (v. 11). Nesse contexto, Judas menciona vícios muito graves, de natureza sexual, introduzidos por falsos líderes no seio de igrejas, a saber: a) transformaram em libertinagem a graça de Deus (v.4); b) contaminaram a própria carne, como Sodoma e Gomorra (vv. 7,8); c) andavam segundo as suas ímpias paixões (v. 16, 18); eram sensuais (v. 19). É isento de dúvidas que um dos mais graves pecados ensinados pelos líderes falsos era a imoralidade sexual, e Judas deixa isso claro.
Parece que o fato se tornou muito importante, pois também Pedro se referiu ao "caminho de Balaão" (II Pe 2.15), e disse que certos líderes tinham "os olhos cheios de adultério", sendo "insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes" (II Pe 2.14).
Assim, três apóstolos - João, Judas e Pedro - escreveram sobre a prática de imoralidade sexual em meio a pessoas que confessavam a fé cristã. E não se tratava somente da prática, mas de alguma teorização e justificativa do erro, porque se chama "doutrina de Balaão".
Além da doutrina de Balaão, havia a doutrina dos nicolaítas, que tem relação com a primeira, pois certo Nicolau ensinara o antinomismo, ou seja, a desnecessidade de apego a regras morais. Enquanto os efésios, com sua ortodoxia, souberam aborrecer as obras dos nicolaítas (2.6), os de Pérgamo não tiveram o mesmo discernimento.´
Registre-se que essas doutrinas imorais não eram pecados de todos os crentes, porque havia "alguns" que disseminavam essas idéias. Mas a advertência foi dirigida à igreja como um todo, dada a tolerância para com o mal. Por isso, se não houvesse arrependimento, o SENHOR iria agir contra eles, por meio da espada de Sua boca, que é justamente a Sua Palavra.
É digno de nota a igreja em Pérgamo parecer tão contraditória: no mesmo lugar em que havia mártires havia libertinos e idólatras. Era de fato uma igreja heterogênea, uma igreja de extremos. Imagina-se que a chamada "Igreja Primitiva" era um modelo ideal de igreja. Ledo engano. Não existe modelo ideal de igreja. O que existe é a Igreja de Cristo, formada por homens e mulheres, todos pecadores encontrados por Cristo, e isso foi o ideal de Deus.
Quando me refiro aos pecados na igreja de Pérgamo, ou de qualquer outra, refiro-me a erros cometidos pelos crentes ou por falsos crentes. No caso de Pérgamo, em especial, havia um grupo sério, de gente capaz de resistir até à morte, mas também havia o grupo dos imorais e dos idólatras - estes, pelo que o texto indica, não eram considerados cristãos pelo apóstolo João, mas, isto isto sim, gente de má-fé, infiltrada, semelhantemente ao que escreveram Pedro e Judas.
Por fim, ao vencedor é prometido o maná escondido, bem como uma pedrinha branca com um nome escrito, o qual somente Jesus e o que o recebe é que podem conhecer. Essa pedrinha branca com o nome escrito em caráter sigiloso denota grande honra e privilégio. O maná é alusão àquele alimento que os israelitas receberam dos céus, quando de sua jornada no deserto, rumo a Canaã (Ex 16.1-10). O maná representa a providência diária concedida gratuitamente por Deus. No Céu, eternamente seremos alimentados pela providência divina. Não me pergunte sobre detalhes do que haverá no Céu, porque eu não sei. Apenas espero comer do maná. O interessante é que tanto o maná é "escondido" como o nome na pedrinha branca é sigiloso. Vejo nisso algo de privilégio exclusivo dos salvos, e de cada salvo.
Só mais uma nota: devemos aprender com a igreja em Pérgamo. Assim como eles, somos igrejas heterogêneas, e há uma decepção generalizada com as instituições eclesiásticas. Muitas pessoas têm se afastado das igrejas, muitas não querem congregar, suspeitam dos líderes, têm receio de um compromisso com uma igreja. E se alguém acha que a Igreja no Brasil está verdadeiramente crescendo, observe, por outro lado, que o compromisso parece diminuir, porque as pessoas andam de igreja em igreja.
De toda maneira, diante desse quadro ruim, não devemos nos delisudir com a Igreja de Cristo, que é vivenciada nas igrejas locais. Para mim é grande motivo de consolo ler a Carta de Jesus Cristo à igreja em Pérgamo. Creio que ela diz muito a todos nós.

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