A igreja em Éfeso, por meio de seu anjo (pastor), é a primeira igreja a receber sua Carta enviada por de Jesus Cristo pelas mãos de João. Jesus diz que conhece suas obras, tanto o seu "labor" como a sua "perseverança"; que não pode ela suportar "homens maus"; que ela pôs à prova "os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são"; que a igreja considerou que esses pretensos apóstolos eram "mentirosos". Jesus repete o elogio à perseverança dos efésios, ante o fato de terem suportado provas por causa do Seu nome, e porque não se deixaram "esmorecer". Tudo isso são elogios.
Entretanto, há uma exortação muito dura, que vem introduzida pela frase "Tenho, porém, contra ti" (v. 4), repetida quanto a algumas outras igrejas.
O que estava errado em Éfeso? Eles abandonaram o seu primeiro amor. Eram ortodoxos, perseverantes, trabalhadores, conheciam o zelo e a disciplina, mas já não amavam tanto ao SENHOR como antes. Por isso, precisariam adotar alguns passos: a) lembrar onde caíram; b) arrepender-se; c) voltar à prática das primeiras obras. Do contrário, seu candeeiro seria removido por Jesus. O candeeiro, como visto anteriormente, representa cada uma das igrejas da Ásia Menor. Se os efésios não voltassem ao primeiro amor, seriam despejados de seu status de igreja.
Estamos diante de um pecado coletivo. Aliás, todas as igrejas a que João escreveu em Apocalipse recebem palavras de cunho predominantemente coletivo, com algumas observações particulares. A igreja de Éfeso está sendo agora contemplada em seu conjunto, e, como corpo, falhou em algum momento, deixando de amar a Deus como em seu início.
Éfeso foi uma igreja privilegiada. O apóstolo Paulo exercera naquela cidade boa parte de seu ministério (At 18.18-19.20). Áquila e Priscila foram deixados por Paulo em Éfeso quando de sua segunda viagem missionária (At 18.18,19); o eloqüente pregador Apolo passou por lá (At 18.24-28); foi lá que, sob as mãos de Paulo, pessoas foram batizadas no Espírito Santo (At 19.1-7), e tantas outras foram curadas ou libertas de espíritos imundos ou práticas de magia, havendo "milagres extraordinários" (At 19.11). Paulo ensinou na sinagoga deles por três meses, e na escola de Tirano por dois anos, de modo que Éfeso se tornou centro de irradiação do Evangelho por toda a Ásia (At 19.8-20). Mesmo sem poder voltar a Éfeso, Paulo chamou seus presbíteros a Mileto e lhes deu uma solene e especial palavra de despedida, que até hoje fala profundamente aos pastores e à Igreja (At 20.17-38). Além disso, o pastor Timóteo foi enviado por Paulo aos efésios, a fim de coibir doutrinas errôneas (I Tm 1.3). Na cidade de Éfeso, Paulo lutou com feras (I Co 15.32). Há a tradição de que o próprio João pregou em Éfeso.
Foi para essa igreja que Paulo escreveu a Epístola aos Efésios - o nome o indica...Trata-se de uma Carta repleta de ensinos cristológicos e eclesiológicos, de suma importância para o estudo de Cristo e da Igreja, portanto.
Dessa forma, sabemos que muito foi dado à igreja em Éfeso. Segundo um princípio estabelecido por Jesus, a quem muito for dado, muito será exigido (Lc 12.48).
Paulo, Apolo, Timóteo e João dedicaram algum tempo àquela igreja. Eles receberam uma Epístola paulina; muitas obras divinas foram feitas naquele cenário. No entanto, o amor esfriou, o amor foi abandonado.
O que se pode dizer de uma igreja nessa situação? Temos deparado com isso em nossos dias? Uma igreja ortodoxa, que sabe identificar e refrear falsos apóstolos; uma igreja operosa; uma igreja que já sofreu ou sofre por Cristo; uma igreja que tem história - mas que perdeu seu afeto por Jesus Cristo, que vive somente do passado, que já não vibra com a Palavra do SENHOR.
O que vemos hoje? Há aquelas igrejas que sequer sabem identificar falsos apóstolos, eis que têm surgido abundantemente homens se autopromovendo a apóstolos, julgando-se, quem sabe, próximos aos Doze. Se essas igrejas não sabem refrear comportamentos estranhos de líderes vaidosos, o que se dirá do amor a Cristo?
A palavra é dura, mas precisa ser observada: a quem muito for dado, muito será cobrado. Pensemos nisso, e não nos apoiemos simplesmente na adequação doutrinária de nossos credos e confissões, tampouco em nossa bela história e tradição - amemos a Cristo.
A Carta prossegue: a igreja em Éfeso tinha ainda outro aspecto positivo, além dos citados nos vv. 2 e 3. Ela foi elogiada por Jesus pelo fato de odiar as obras dos nicolaítas, obras que Ele também odeia. Os nicolaítas pregavam uma espécie de antinomismo, ensinando que a liberdade cristã afasta as exigências éticas. Eram liberais. Portanto, os efésios estavam certos em aborrecer as práticas dos nicolaítas.
É valioso afastar-se daquilo que Jesus não aprecia. Na verdade, Jesus odiava as obras dos nicolaítas. Isso mostra que devemos "comprar as brigas" que Jesus comprou. Lutar por causas legítimas é agradável aos olhos de Cristo.
As Cartas às sete igrejas terminam com um "quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (nesse caso, v. 7). Por isso, como eu tenho ouvidos, não posso me furtar ao que foi escrito às igrejas da Ásia, uma vez que a mensagem serve a todos nós como advertência e promessa.
A promessa dita à igreja de Éfeso, e que estende a todos os cristãos, é de que o que vencer se alimentará da "árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus" (v.7). Assim como havia a árvore da vida no Jardim, no Éden (Gn 2.7), os vencedores comerão de seu fruto (Ap 22.2).
Adão e Eva, depois da Queda, foram expulsos do Jardim para não comerem daquela árvore, a fim de não alcançarem a vida eterna. A vitória obtida por Jesus Cristo no Calvário garante ao salvo a vida eterna. Essa é a promessa maior, o fundamento de nossa esperança.
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