A igreja em Sardes recebe a Carta de Jesus Cristo, "aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas" (v.1).
Não se trata de sete Espíritos literalmente, mas de um Espírito sêxtuplo, ou seja, Perfeito, porque o número sete, na numerologia judaica, indica perfeição. Já anotei isso no estudo Jesus Cristo e Seus atributos (1.4-6).
Jesus é também o que tem as sete estrelas porque Ele foi Quem nomeou os pastores das sete igrejas. O próprio Jesus afirma que as sete estrelas são os sete anjos das igrejas (1.20), que são, como dissemos antes, os respectivos pastores.
Assim, Aquele Jesus glorificado que apareceu a João com as sete estrelas nas mãos (1.16) é o mesmo que tem os sete Espíritos de Deus, que por Sua vez estão diante do trono de Deus (1.4).
A igreja em Sardes não tem muito do que se orgulhar. Jesus diz: "Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto" (v.1). A palavra é tão direta quanto dura. Sem hesitação nenhuma, Jesus declara o pecado daquela igreja, qual seja, a hipocrisia, o cristianismo nominal.
A igreja em Sardes tinha nome de que vivia, mas estava morta. Ela estava acometida de um grave problema, e parece que o estado já era terminal. De fato, prossegue o texto: "Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus" v.2). Essas palavras sugerem uma situação tão preocupante que a recomendação era só salvar um resto, porque a maior parte já estaria perdida.
Mesmo assim, Jesus sempre oferece uma possibilidade de esperança: "Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti" (v.3).
Lembrar, guardar, arrepender-se...A igreja de Sardes conhecia a verdade, mas não se firmava nela. Surge aqui a idéia de inconstância, teimosia e indisciplina por parte de quem sabe p que deve fazer e não faz. Como eles tinham o conhecimento necessário, a falta de disciplina acarretaria um juízo repentino.
Como sói acontecer, havia um remanescente, referido como "umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas" (v.4).
A promessa ao vencedor liga-se à situação do remanescente. Vejamos: "O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Quem tem ouvidos, ouça o que Espírito diz às igrejas" (vv.5,6).
Aquelas poucas pessoas que não contaminaram suas vestes andarão de branco com Jesus, serão vestidas de vestes brancas. A cor branca, no Apocalipse, simboliza a pureza, a justiça. Quem é justo agora será considerado digno de morar no Céu, porque o Céu é lugar de Justiça. Há coerência nisso. Não há um modo de passar por uma espécie de purgatório, um estágio de transição - o Céu e o Inferno são conseqüencias do que somos aqui.
Lembro agora daquele famoso Sermão de JONATHAN EDWARDS, Pecadores nas mãos de um Deus irado. Ele dizia que o Inferno apenas reflete o que há no coração dos ímpios. É isso mesmo. Em contrapartida, o Céu reflete o que Jesus operou pelos salvos no Calvário - atos de Justiça para justificar pecadores.
Outro prêmio para o que vencer será a manutenção do nome no Livro da Vida, assim como a "confissão" do nome do vencedor, pelos lábios de Cristo, diante de Deus e de Seus anjos.
Que interessante! Aquela igreja era nominal, tinha uma fé nominalmente viva e efetivamente morta, mas o resto que ainda vivia teria seu nome confessado por Cristo. Isso não indica uma contraposição entre a confissão meramente nominal da igreja de Sardes e a confissão de Jesus Cristo como prêmio aos verdadeiros crentes? Quero dizer: se a pessoa confessa a Cristo "da boca para fora", Jesus a rejeitará diante do Pai. Essa é uma boa demonstração da Lei da Semeadura.
Também vejo esse contraponto no fato de que o cristão nominal não terá seu nome escrito no Livro da Vida.
É preciso pensar mais sobre o Livro da Vida. Vemos Moisés intercedendo por Israel em Ex 32.30-35 a ponto de pedir a Deus: "perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste" (v.32). Em Lc 10.20, Jesus diz aos 70 para não se alegrarem demais pelo fato de expulsarem demônios, mas por seus nomes estarem arrolados nos Céus.
Livro da Vida, livro que Deus escreveu, nomes arrolados no Céus - tudo isso está relacionado. Em Ap 13.8, João menciona novamente o Livro da Vida, sendo que aqueles que não tiverem seus nomes ali escritos adorarão a besta (Ap 13.1-10). Ainda em Ap 13.1-10, vemos que se trata do "Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo" (v.8).
O Livro da Vida traz a idéia do rol de salvos, associada à dinâmica do plano soberano de Deus, que, longe de ser passivo às atitudes humanas, coordena todo o programa salvífico. Dessa forma, o Livro da Vida é como um documento que, de acordo com certos pressupostos, contém os nomes de quem atendeu ao convite da Salvação. Não se trata de ser predestinado, mas de ter atendido ao plano salvífico tal como delineado por Deus, sem reservas. Afinal, o livre-arbítrio, como premissa geral, foi planejado por Deus. Quando eu decido me tornar cristão pela fé, e guardar os mandamentos divinos, eu na verdade estou me "encaixando" num plano que precede à fundação do mundo.
Para nós fica a solene advertência: a confissão de Jesus Cristo como Salvador e SENHOR precisa repercutir em nossas atitudes. O "nominalismo" é sempre pecaminoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário