O uso da palavra grega Apocalipse não ajuda o leitor, eis que confirma a atmosfera fantasiosa e terrorista que muitos emprestam ao estudo da Escatologia. Quando se fala em apocalipse, as pessoas pensam somente em mistério, monstros, cataclismos, fim do mundo. E o que recebe o nome "literatura apocalíptica" é um conjunto de textos surgidos no Cristianismo primitivo e que nada têm que ver com o que João escreveu no seu Apocalipse.
Como disse o Pr. Dr. MAURO CLEMENTINO numa de suas aulas sobre o Livro de Apocalipse, seria mais recomendável que o termo fosse traduzido em nossas edições da Bíblia como Revelação. Nesse aspecto as Testemunhas de Jeová andaram bem com a sua tradução Novo Mundo - vejam bem, eu disse "nesse aspecto"!
De fato, Apocalipse, em vez de significar "mistério", significa "revelação". É exatamente o oposto do que se pensa geralmente sobre esse Livro Sagrado.
O autor inspirado diz que se trata da "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João..." (1.1). Note-se bem: ele não disse "Enigma de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para que alguns poucos escolhidos pudessem descobrir, pela especulação e estudo aprofundado, as coisas que em breve devem acontecer...". Não é mistério, mas revelação de um mistério, ainda que empregando metáforas e estilo indireto.
Se quisermos ver nessas palavras joaninas uma anotação temporal, podemos destacar a expressão "em breve". Não me parece que "em breve" possa sugerir acontecimentos de um futuro muito distante, ao mesmo tempo em que reconheço haver no Livro episódios que ainda não ocorreram desde João. Por isso, prefiro entender que se trata de eventos iniciados pouco depois do período apostólico, e que se estenderam pelos séculos seguintes. Sobre isso poderemos tratar adiante.
O apóstolo João afirma que lhe foi enviado um anjo da parte de Jesus Cristo; que ele mesmo, João, "atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu" (v.2). Assim, temos diante de nós o relato de uma visão concedida por Deus, na Pessoa de Jesus Cristo, mediante uma criatura celestial. João pôde comprovar, verificar, testemunhar o que lhe foi apresentado, e com isso não teve dúvida nenhuma de que a Palavra de Deus é verdadeira, tal como Jesus lhe ensinara pessoalmente durante Seu ministério nesta Terra.
Depois do intróito, João escreve a primeira de sete bem-aventuranças: "Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo" (v.3).
Há uma solenidade nisso. O texto revelado é também uma profecia para um tempo próximo. É preciso tomar uma atitude frente a essa mensagem, não se pode ficar alheio, omisso. Bem-aventurados são os que lêem, ouvem e guardam as palavras nela escritas. Há grande seriedade nisso.
Vê-se no Apocalipse um sentido de urgência, de necessária atenção e temor. Temos diante de nós o velho apóstolo João aprisionado na ilha de Patmos. Só ele restou, de doze apóstolos. Nem o "abortivo" Paulo está vivo ainda. Está nas mãos de João o compromisso de deixar para os crentes um legado de importância singular, acerca do que irá acontecer brevemente, num tempo próximo.
Quero estudar o Livro de Apocalipse. Eu confesso que só agora, com as aulas do Pr. Dr. MAURO CLEMENTINO, tive a noção do quanto perdemos ao não compreendermos a mensagem apocalíptica. Temos receio, ficamos de longe, deixamo-nos levar por muitas correntes escatológicas que se excluem mutuamente, que fazem parecer que o Livro é demasiado polêmico, quando polêmicas são as opiniões a seu respeito, não raro eivadas de parcialidade.
Vamos prosseguir, se Deus quiser, numa outra ocasião.
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