Em Jr 45.1-5, temos um interessante registro em meio à profecia de Jeremias. Durante seu difícil ministério de denúncia dos pecados de Judá, especialmente de seus líderes, o profeta tinha consigo um secretário, chamado Baruque. Este, embora não tivesse o chamado do profeta, acabava enfrentando situações adversas, já que acompanhava Jeremias no seu ofício, escrevendo as palavras deste num livro.
O tempo é de crise moral, espiritual, social e política. Estamos no Século VI a.C., no quarto ano de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá (v.1); se o capítulo 45 obedece à ordem cronológica dos anteriores, Jeremias e Baruque estão no Egito, nação supostamente aliada a Judá, e destino daqueles que querem escapar de Nabucodonosor. Jeremias e seu secretário estão lá a pulso.
Diante da oposição e perseguição de seus próprios líderes políticos e compatriotas, Jeremias aguenta firme, pois Deus o fortalecera (Jr 1.15-19). Já Baruque, no meio desse fogo cruzado, tem seus sentimentos conturbados.
De fato, Baruque disse a si mesmo: "Ai de mim agora! Porque me acrescentou o SENHOR tristeza ao meu sofrimento; estou cansado do meu gemer e não acho descanso" (v.3). Essa não era uma afirmação errada em si mesma, pois as circunstâncias eram terríveis. Baruque não achava descanso, estava sofrendo, e reconhecia que tudo o que ocorre ao homem provém do SENHOR, que em Sua soberania controla todas as coisas. Sua teologia, a priore, estava correta, mas havia alguma coisa subjacente a isso, algum sentimento que Deus não aprovou.
Tanto isso é verdade que Jeremias, dirigido pelo Espírito Santo, precisou dizer a Baruque o seguinte: "Eis que estou demolindo o que edifiquei e arrancando o que plantei, e isto em toda a terra. E procuras tu grandezas? Não as procures; porque eis que trarei mal sobre toda a carne, diz o SENHOR; a ti, porém, eu te darei a tua vida como despojo, em todo lugar para onde fores" (vv.4,5).
Três lições, pelo menos, podem ser extraídas daqui: 1) no contexto do nosso sofrimento pela causa do SENHOR, Ele nos relembra o que está operando em nossos dias, como está agindo, o que pretende fazer; 2) ainda que nossos pensamentos e queixas sejam legítimos, sempre há o perigo de procurarmos grandezas, ou seja, procurarmos conforto, bem-estar, tranqüilidade para nós mesmos. É assim que eu entendo "grandezas", pois o sossego que Baruque procurava não estava nos planos divinos! 3) o importante é termos a salvação de nossa alma, a preservação de nossa vida com Deus.
Isso não é fácil de admitir, mas é certo. Se pudermos manter ao menos a nossa vida - e daqueles que estão conosco -, seremos vencedores. A vitória que o mundo oferece tem que ver com grandezas. Não busquemos grandezas, ainda que com isso pareça que estamos perdendo.
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