Milagre é um fenômeno sobrenatural, e, por isso, excepcional. O natural é a regra. A Criação tem suas leis físicas, químicas e biológicas. A Providência Divina mostra-se a cada milésimo de segundo. Deus criou e sustenta todas as coisas pela palavra do Seu poder. Deus criou os mundos pela Sua palavra.
De algum modo, tudo é milagre, pois Deus é sobrenatural, Deus é Espírito. Ao criar o Universo e tudo o que nele se contém, Deus usou o Seu poder. Isso não é algo sobre-humano e metafísico? E quanto ao cuidado diário que o SENHOR promove sobre bons e maus, animais e vegetais, mantendo o equilíbrio cósmico e ambiental, apesar de nós, humanos? Isso não é sobre-humano e metafísico?
No entanto, em termos mais técnicos e precisos, milagre é exceção mesmo, porque consiste num acontecimento alheio à lógica e à ciência, que não pode ser provado pela razão, e que cumpre um propósito divino para o bem do Ser Humano e para a glória de Deus.
Dessa forma, milagre não pode ser a pauta de todos os dias, não pode ser a tônica da vida cristã. Não somos mais crentes por causa do milagre, nem menos crentes sem ele. Não é a Bíblia que diz, em algum lugar, "bem-aventurados os que não viram e creram"? Será que, no final das contas, o mais crente mesmo não será o que não experimentou nenhum milagre e ainda assim creu em Jesus Cristo como Salvador e SENHOR?
Os sinais acompanharão aqueles que crerem (Mc 16.17), e não "os que crerem terão que acompanhar os sinais". E para que os sinais nos acompanhem, teremos que ir, porque ninguém nem coisa alguma pode acompanhar quem está parado - isso é lógica! É necessário seguir evangelizando, a fim de que os sinais prossigam atrás do evangelizador. Está claro?
O próprio Marcos registrou um sermão escatológico de Jesus em que Ele nos alerta contra a atitude daqueles que ficam dizendo "Eis aqui o Cristo" ou "Ei-lo ali" (Mc 13.21). Embora alguém pense que essa advertência se refira apenas a pessoas como Inri Cristo e Reverendo Moon, que se autopromoveram a messias, é bom lembrar que muitos crentes se deixam induzir por "milagreiros" que se dizem usados por Deus de maneira diferente e especial. Isso também é cumprimento de Mc 13.21, pois Cristo não está ali ou acolá, mas em sua Igreja, que é o Corpo de Cristo (I Co 12.27; Ef 5.23; Cl 1.18).
Quem vive de milagres está enganado, foi mal-instruído ou não conhece o caráter de Deus. É preciso viver o normal, o bom da vida, sendo gratos por aquilo que Deus fez, faz e fará, o que não nos impede de fazer orações em busca do milagre quando acharmos que precisamos de um. Ainda assim, que seja feita a vontade do SENHOR, que é Soberano.
Além disso, orar pela cura, ressurreição ou qualquer outra coisa extraordinária exige a motivação correta. Para que eu quero um feito maravilhoso de Deus, quando eu mesmo posso me empenhar no mundo natural? Para que desejar a cura de alguém, no meio da multidão, num culto "avivado", numa festa da igreja, se eu não tenho compaixão dos pacientes nos hospitais, não os visito, não procuro ajudar na prevenção de doenças, tenho ojeriza ao sofrimento do outro, e não sei o que é solidariedade?
O milagre é bíblico, divino e bom. Mas há que se pensar, há que se crer, há que se ponderar. O crente que busca milagres a todo custo, que os prioriza, precisa rever seus conceitos, porque o crente Abrão não viu antes de crer, e justamente por isso é considerado o pai da Fé. Diferentemente, o apóstolo Tomé quis ver para crer, e hoje seu nome é lembrado quando se fala de dúvida, e não de fé.
Portanto, acredito que o discurso triunfalista e neopentecostal está invertido. Em vez de achar que é preciso ver milagre para mostrar que tem fé, o crente precisa crer que Jesus é tudo o que Ele diz que é, mesmo sem operar os milagres que eu espero.
Concluo dizendo que a teologia que enaltece os milagres acima de tudo é mais mística do que espiritual, mais incrédula do que crente, mais pagã do que cristã.
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