Algumas idéias mal-concebidas freqüentam as mentes de muitos cristãos evangélicos em nosso imenso Brasil. Seguem algumas delas, com um simples e respeitoso comentário nosso:
"O púlpito é o lugar mais santo da igreja". Primeiro, púlpito é apenas a tribuna, o suporte em que se apóia a Bíblia; segundo, o lugar onde fica o púlpito (plataforma ou não) é simplesmente um espaço no salão ou santuário; terceiro, esse espaço não tem nada que ver com Altar, Lugar Santo ou Santo dos Santos, pois toda essa simbologia pertence à Antiga Aliança, com seu sistema de sacrifícios, em que o Templo de Salomão sucedeu o Tabernáculo de Moisés. O templo hoje é o corpo de cada cristão, onde habita o Espírito Santo. Os lugares de culto podem ser chamados de santuário, apropriadamente, embora "templo" não esteja de todo errado.
"O conhecimento afasta o homem de Deus". Essa frase não é correta porque estabelecida em termos absolutos. O conhecimento afasta o homem de Deus quando este se deixa afastar, assim como a riqueza, a vaidade, os prazeres podem afastar o homem de Deus. O problema do conhecimento é não saber usá-lo, além de que nem sempre o que se apresenta como ciência é, de fato, ciência. É certo que muitos há que se induzem por filosofias inúteis, teologias equivocadas, soberba intelectual, culto ao conhecimento. Mas nada disso comprova a afirmação de que o conhecimento necessariamente afasta o homem de Deus. O que afasta o homem de Deus é o pecado.
"Precisamos voltar ao modelo da Igreja Primitiva". Não. Nós não devemos nem podemos voltar ao modelo da Igreja Primitiva. Primeiro, não havia um só tipo de igreja primitiva, pois veremos que as igrejas em Jerusalém, Antioquia da Síria, Corinto e Éfeso, por exemplo, eram diferentes; segundo, não quero os problemas morais, o partidarismo nem a vaidade espiritual de Corinto; não quero o legalismo nem a insensatez dos gálatas; não quero a religião de mistério que se infiltrou entre os Colossenses; terceiro, precisamos cumprir os desígnios de Deus para os nossos dias, conforme os princípios de Sua Palavra, porque não somos crentes do Primeiro Século, mas do Século XXI.
"O pregador, quando fala no púlpito, é a boca de Deus". O pregador não é a boca de Deus porque ele não é profeta, não está falando inspirado pelo Espírito Santo, não traz nova revelação, o que ele diz não é novo, não é para aumentar o Cânon Bíblico. O pregador fala - ou deve falar - dirigido pelo Espírito de Deus quanto ao conteúdo a ser ministrado e talvez a forma, porém conforme o que está escrito, porque para isso foi chamado ou recebeu a oportunidade. Se ele for usado em profecia, palavra do conhecimento ou palavra da sabedoria, ainda assim não é a boca de Deus, mas um dom do Espírito para edificação, consolação e exortação da igreja que ali se reúne, sem abrangência geral e sem destinação literária. Nos dons espirituais de verbalização, o crente é veículo ou instrumento para a transmissão de uma mensagem divina. Agora, dizer que ele é a boca de Deus é um pouco demais. Não temos oráculos. Quem usou duas mulheres como supostos oráculos do Espírito Santo foi Montano, no Segundo Século da Era Cristã, tido por herege pela Igreja. Isso precisa ficar bem compreendido.
"Crente que não dá 'glória a Deus' na igreja é frio". Esse é um conceito prático dos pentecostais, mais precisamente em minha denominação. Mas eu discordo. Dar glória a Deus pode ser em silêncio. Pode ser com o testemunho diário. Pode ser com o estilo de vida. Não é preciso gritar "glória a Deus" e "aleluia" para ser espiritual ou fervoroso. Também não se deve recriminar quem gosta de fazê-lo. Há pessoas mais caladas, mais tímidas, que não abrem a boca normalmente. Por que violentar seu temperamento ou cultura em nome de um trejeito denominacional? Igualmente, esses mesmos crentes silenciosos às vezes estão prestando bastante atenção à pregação. Isso precisa ser respeitado. Lembremos que o fato de a pessoa estar calada não significa que seu cérebro não esteja funcionando.
Essas são algumas idéias mal-concebidas, na minha opinião. Quem sabe o leitor acredite que mal-concebidas são as minhas idéias, e não aquelas que eu critico...Tudo bem. Mas o leitor não poderá dizer que digo as coisas sem nenhum fundamento. Pelo menos eu procuro sistematizar, colocar as coisas em ordem dentro da minha cabeça. Essa é a nossa maneira de contribuir.
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