Um homem chuta o advogado Roberto Podval quando este retorna do almoço para o Tribunal do Júri. Ele também é vaiado. Cartazes pedem justiça e paz ao mesmo tempo em que dizem peremptoriamente que o casal é culpado. A família Nardoni é malvista pela massa, que clama pela condenação. Do lado de fora do prédio, esses "juízes" não querem justiça, mas justiçamento.
Certamente existe aí o fenômeno do bode expiatório: condena-se o casal antes da hora, sem legitimidade para qualquer decisão a respeito, não por um elevado sentimento de justiça, mas por uma projeção dos próprios pecados naqueles dois que se sentam no banco dos réus. A sociedade purga seus pecados, ou acha que o faz, quando vê alguém "pior": um acusado de assassinar a própria filha, jogando-a pela janela, e a madrasta, acusada de provocar asfixia. Será que esse pessoal é tão justo assim? São tão sensíveis quanto a outras questões como têm sido no Caso Isabella Nardoni?
Por que não há comoção em situações outras?
E mais: é errado imaginar que o Dr. Roberto Podval seja um carrasco por ter pedido que a mãe da menina Isabella ficasse à disposição da Justiça. O juiz deferiu o pedido, o que sugere sua legalidade. E não se pode falar em confinamento, pois todas as testemunhas são incomunicáveis. É bom recordar que foi o Promotor quem arrolou a mãe da menina como testemunha, o que fez provavelmente com fundamentos sólidos. Da mesma forma, esse direito assiste à Defesa.
Enquanto milhões de pessoas estão trabalhando no país afora, algumas se aglomeram em frente ao fórum, e algumas se exaltam. Condenam a família, condenam os advogados. Para essas pessoas, parece que o ideal seria voltarmos à Idade Média, com a ausência de defesa, ou à Antiguidade, com as ordálias dos povos "bárbaros" - em que, por exemplo, o acusado era jogado no rio: se sobrevivesse, é porque era inocente; se morresse, era culpado, e Deus o castigou com a morte.
Justiça é uma virtude. Justiçamento é um pecado. Se a defesa faz seu trabalho com esforço, há os demais componentes do tripé: julgadores e acusação. O sistema deve funcionar bem, e se o advogado for muito ruim o tribunal pode anular o julgamento por inépcia da defesa, já que todos têm direito ao devido processo legal, com ampla defesa e contraditório.
Não vou dizer o que penso sobre a culpabilidade ou inocência do casal Nardoni. Isso não cabe neste espaço, por uma série de razões. Reprovo, porém, o arbítrio e o julgamento precoce. Deixemos que o Tribunal do Júri tome a sua decisão soberana.
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