sábado, 20 de março de 2010

Não é falta de respeito discutir o uso da ayahuasca

Tem sido inevitável debater o uso religioso da ayahuasca depois da morte do cartunista Glauco Villas-Boas e seu filho Raoni, pois Glauco era líder e fundador do Céu de Maria, núcleo da seita Santo Daime, e o assassino havia frequentado as reuniões daimistas para se livrar da dependência química.
No post O caso Glauco, Santo Daime e ayahuasca, publicado aqui no dia 14 de março, eu me referi à legislação brasileira e à necessidade de um controle social mais rígido sobre o uso desse chá que é, sim, alucinógeno, embora o uso religioso diga tratar-se de um componente que conduz ao autoconhecimento. Respeito a fé dessas pessoas, como espero que respeitem a minha, mas não posso deixar de registrar que para a ciência a ayahuasca é uma droga, e como tal deve ser tratada, em nome da saúde das pessoas envolvidas, principalmente menores de idade e aqueles que passam por doenças psíquicas.
Não estou só nessa questão. Os colunistas Carlos Heitor Cony e Bárbara Gancia, da Folha de S. Paulo, jornal para o qual Glauco trabalhava, escreveram artigos chamando a atenção para esse problema. Mesmo de luto, mesmo respeitando a liberdade religiosa, eles não hesitaram em tratar de um tema inevitável e importantíssimo, pois o que todos queremos é a promoção do bem-estar, e não uma guerra contra as seitas que usam a ayahuasca, palavra que vem do quéchua e que significa "cipó dos espíritos".
Se uma pessoa precisa tomar remédios com efeitos na psique, por menores que sejam, deve obter uma prescrição médica, e o remédio é "controlado". Isso quer dizer, grosso modo, que a farmácia irá reter a receita, a qual deverá conter os dados pessoais do paciente. Até mesmo com um tranquilizante inofensivo é assim que se procede. Por que, então, a ayahuasca não precisaria passar por um controle social mais rígido? Só porque se trata de um chá considerado sagrado? Onde estão, pois, outros valores constitucionais, como o direito à saúde e a proteção às crianças, adolescentes e pessoas com problemas emocionais?
Em exemplo extremo, mas não menos razoável, o direito brasileiro não admite o sacrifício de pessoas em rituais religiosos, em favor, claro, do direito à vida. Se protegemos o direito à vida, também devemos proteger a saúde, especialmente de indivíduos com alguma incapacidade, seja provocada pela idade, seja por alguma doença ou transtorno.
Aquela história de liberação do uso da maconha é típica de um Estado secularizado, em que se pensa em coibir apenas os problemas sociais como, nesse caso, o tráfico ilícito de entorpecentes e a violência, mas sem atentar para as carências individuais, sob a alegação de que essas coisas se encerram na esfera de liberdade do cidadão.
Não podemos esquecer que nossa sociedade admite o uso e a venda de cigarro, charuto e bebidas alcoólicas, não menos nocivos que a maconha. Por isso, seria desarrazoado centrar fogo apenas contra a maconha e a ayahuasca. Todavia, em qualquer circunstância, precisamos estar atentos a um controle social que leve em consideração a pessoa humana, que deve ser tratada em sua dignidade. Aliás, penso que para a grande maioria das religiões a pessoa humana é o valor mais sagrado de todos.
Dizer que houve um estudo sobre o uso religioso da ayahuasca é correto, assim como sua regulamentação demorou quase 20 anos. Mas isso não significa que houve representatividade nas discussões, nem que o debate tenha sido levado à sociedade. Havia, sim, representantes de grupos interessados, mas não de toda a sociedade. E disso talvez tenha resultado aquilo com o que mais me preocupo: a decisão de deixar com as mães o poder de permitir que seus filhos consumam o chá, da mesma forma que se fez com as gestantes. Pergunto: isso é certo?
Eu faria o mesmo raciocínio se evangélicos fossem defrontados com práticas abusivas. Se, acaso, pastores usarem suas igrejas para lavagem de dinheiro, estarão absolutamente errados e merecerão duras críticas.
Muitas críticas é o que tenho feito aqui neste blog, às vezes sendo acusado de criticar demais os meus "irmãos". Se eu não criticar os "de dentro", irmãos, que legitimidade terei para tratar de assuntos variados com alguma imparcialidade?
Portanto, continuo pensando a mesma coisa. Respeito imensamente as pessoas do Santo Daime, da União do Vegetal, da Barquinha, de todos os grupos que observam a ingestão da ayahuasca como chá sagrado. Entretanto, isso não me desautoriza a discordar e pedir maior controle sobre o uso desse chá.

Um comentário:

João Armando disse...

Acima do respeito, você tem o direito constitucional de criticá-los. Que melindres! A revista Veja desta semana, já disponível on line e que deve estar amanhã nas bancas, também tem uma matéria sobre o assunto - e concorda com você. É impressionante como o óbvio não é tão óbvio para alguns... O óbvio: o tal chá faz mal, sim, se não para todos, para alguns - ao ponto de levar a tragédias como a que houve. A outra obviedade é a intolerância do Estado com respeito não aos daimistas, mas a nós evangélicos. Eles podem beber suas beberagens alucinógenas em respeito às suas crenças. Nós não podemos dizer que somos contra o homossexualismo, pelos mesmos motivos. Mas isso não é novidade. O mundo nunca foi simpático à causa de Cristo mesmo.



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Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
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Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
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E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.