"Toda vez que saía da prisão, transferido, ou para ser julgado, havia uma multidão me esperando para xingar. Jogaram até cocô em mim. No meio daquilo tudo, estavam sempre dois ou três crentes com a Bíblia, pregando a paz. Eu os achava uns malucos, mas quem mais me tratava como gente?"
As palavras acima foram extraídas do artigo "Guilherme de Pádua, livre há 7 anos, diz se sentir preso", da Folha On Line, 15 de outubro de 2006. Na entrevista ao repórter Paulo Sampaio, o ex-ator, condenado pelo assassinato de Daniela Perez, em 1992, revela sua dificuldade em retornar ao pleno convívio social. E diz que a religião foi a única alternativa. Enquanto as pessoas estavam dispostas a linchá-lo, ainda havia alguém disposto ao perdão.
Segundo a reportagem, Guilherme de Pádua cumpriu um terço da pena de 19 anos, voltou à sua cidade (Belo Horizonte/MG), tornou-se membro da Igreja Batista da Lagoinha e se casou com uma moça da igreja. Pode-se afirmar que no Brasil as penas não são efetivamente cumpridas, que há muitos benefícios legais, que pouco mais de seis anos de prisão não é justo para um assassino. Todavia, essa foi a pena aplicada pela Justiça Penal, e isso o Guilherme de Pádua cumpriu. Dessa forma, o desafio agora é a reinserção social, tão difícil quanto a pena em si.
Mas o que me chamou a atenção na entrevista foi o fato de Guilherme de Pádua ter reconhecido naqueles crentes "com a Bíblia" uma demonstração de que nem tudo estava perdido. Para mim, que sou um tanto racional demais - o que reconheço -, ficar com a Bíblia na mão na frente de um fórum, apelando contra o linchamento ou dizendo que Jesus perdoa pecados, não é a melhor maneira de evangelizar. Mas foram esses irmãos que despertaram a fé no coração do homem condenado por homicídio.
Nos dias de julgamento do casal Nardoni, havia um homem com a Bíblia na mão, pregando contra a fúria da multidão. Perturbada, a massa queria bater no homem. O que é isso?
Lembro do filme O motim em que se retratava o problema dos "intocáveis" da Índia. Intocáveis eram pessoas que, por algum erro cometido, caíam em desgraça. Dessa forma, Guilherme de Pádua pode ser considerado um tipo de pária pela sociedade, que, não satisfeita com a condenação penal, impõe a condenação eterna.
Isso ocorre independentemente da pena. Mesmo se houvesse uma pena perpétua, o rapaz continuaria sendo visado como o eterno assassino. Sim, ele foi julgado e considerado culpado, mas a posição da sociedade em relação aos ex-presidiários precisa ser revista.
Não digo que seja uma situação fácil. Temos muitos preconceitos, e há casos de reincidência e real periculosidade. Mas não podemos simplesmente entregar essas pessoas ao limbo. Um meio de atenuarmos a nossa rigidez demasiada é pensarmos o seguinte: e se fosse eu no lugar dele?
O artigo da Folha pode ser encontrado no seguinte endereço:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u127056.shtml
Um comentário:
Li a entrevista no site da Folha. É impressionante. Não posso julgá-lo como convertido simplesmente pelo que diz lá, mas tampouco posso achar que alguém possa estar fora do alcance do poder de Deus, mesmo que seja psicopata (não sei se é, falo em hipótese). SE realmente se converteu, que Jesus maravilhoso temos, que pode tornar o pior pecador um santo. Pior do que ele foi o autor do hino "a graça eterna", que era traficante de escravos, e ele deu maravilhoso testemunho de conversão. O mundo se escandaliza com isso, mas a loucura de Deus é muito superior à sabedoria dos homens!
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