domingo, 14 de março de 2010

O caso Glauco, Santo Daime e ayahuasca

Temos assistido aos desdobramentos dos crimes que ceifaram as vidas do cartunista Glauco, da Folha de S. Paulo, e de seu filho Raoni. As primeiras notícias diziam que se tratava de uma tentativa de assalto ou de sequestro. Depois, tudo mudou: o assassino seria Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, frequentador ou ex-frequentador da seita do Santo Daime, da qual Glauco era um dos principais líderes. O rapaz era conhecido da família e da comunidade do Céu de Maria, lugar fundado por Glauco para os rituais com o chá alucinógeno chamado "ayahuasca".
De assaltante ou sequestrador, o indivíduo passou a ser apresentado como alguém que apareceu batendo nos familiares de Glauco e no próprio cartunista, e lhe pedindo que fosse até São Paulo para convencer sua mãe de que era Jesus Cristo. A história não está muito clara, mas dá conta de que, ao chegar da faculdade, Raoni discutiu com Carlos Eduardo ao ver seu pai ensanguentado, e os tiros foram disparados, dez ao todo. O rapaz fugiu num carro com outro jovem. Havia várias testemunhas.
Há muitas coisas que eu gostaria de comentar, a começar pelo tratamento que a imprensa vem dando ao caso: como lembra Reinaldo Azevedo, da "Veja", no texto Daime, inconsistências e absurdos, tem-se classificado o Santo Daime como "doutrina cristã", coisa que ele não é. Seu fundador, um seringueiro chamado Raimundo Irineu Serra, o Mestre Irineu, misturou cristianismo, espiritismo e xamanismo, a partir de seu contato com um xamã peruano. Assim nasceu o Santo Daime, com um discurso de que o chá da ayahuasca levaria à autoconsciência, ao encontro com Deus, à espiritualidade. Mas, só porque ele chama sua doutrina de Cristianismo, a imprensa não precisa fazer essa afirmação peremptória. E não é de Cristianismo que se fala porque, entre outras coisas, a Bíblia reprova a pharmakeia, ou seja, a prática de feitiçaria em suas diversas formas, e especialmente o uso de plantas com efeitos "espirituais" (qualquer semelhança com "fármacos", ou "drogas", não é mera coincidência).
Outra coisa que me incomoda: jornalistas têm chamado a comunidade "Céu de Maria" de "igreja", palavra eminentemente neotestamentária, que não pode ser dissociada de seu conteúdo cristão: igreja, do grego ekkesia, é a assembleia tirada para fora. Numa alusão às assembleias gregas, chamadas para a praça com o objetivo de discutir temas civis ou políticos, a ekklesia é o nome que se dá ao povo de Deus, aos que foram chamados para fora do mundo, para fora das trevas, para fora do reino do Inimigo, a fim de adentrarem ao Reino de Deus. Curiosamente, os mesmos jornalistas não hesitam em chamar igrejas evangélicas de "seitas".
Dentro disso, algo me chamou a atenção: numa reportagem no Jornal Hoje, depois da morte de Glauco e de Raoni, a repórter, falando sobre o Santo Daime, disse que "alguns médicos consideram a bebida alucinógena". Não, senhora, não são "alguns médicos". É a medicina mesmo, a ciência.
A ayahuasca é uma bebida alucinógena, usada por índios amazônicos, e composta pelo cozimento de um cipó e da folha de uma planta, a "rainha". O cipó tem propriedades alucinógenas, por causa do componente DMT, que, conforme reportagem de "Veja", em 1996, com o título A seita do barato - a qual cito abaixo - não pode ser absorvido pelo organismo. O chá só tem efeito alucinógeno porque a planta "rainha" neutraliza a ação da enzima que impede a absorção. Por isso, há a alteração do estado mental, e a pessoa chega a "miragens", o mesmo que as "viagens" das pessoas usuárias de drogas.
Na referida reportagem de "Veja", li histórias sobre suicídios, um assassinato e até um esquartejamento envolvendo pessoas "daimistas" - consumidoras do chá. Ao lado do aspecto um tanto romântico da seita - pela participação, no passado, de artistas como Lucélia Santos, Maitê Proença, Ney Matogrosso e Carlos Augusto Strazzer, e da origem amazônica, há relatos macabros de crimes cometidos por pessoas que, de repente, saíram de si. Também há a notícia de que as comunidades daimistas exercem coerção sobre pessoas jovens, tirando-as de suas famílias, muitas delas ricas ou de classe média.
Numa dessas histórias, aparece o cartunista Glauco, na década de 1990. Uma moça chamada Verônica, cuja mãe lutava para ter sua guarda, teria obtido a ajuda de Glauco para ir à Colônia 5000, um dos redutos do Santo Daime. A moça foi e não mais voltou (pelo menos até a data da reportagem de "Veja"), segundo o relato de sua mãe, Alicia Castilla, ex-daimista.
Por questões de liberdade religiosa, o Estado Brasileiro não proscreveu o uso da ayahuasca, desde que no contexto dos rituais religiosos.
A Resolução nº 05/2004, do Conselho Nacional Antidrogas (CONAD), preceitua que cabe aos pais, e somente a eles, a decisão sobre dar ou não ayahuasca a seus filhos menores. Esse poder de decisão foi entregue também às grávidas.
As crianças recebem o chá desde a tenra idade, e não há controle sobre quem tem problemas mentais ou não - muito menos sobre interações medicamentosas, como exemplificado naquela clássica pergunta dos médicos: "Você toma algum remédio"?, justamente para evitar misturas indevidas. E, cá para nós, não é difícil haver pessoas com problemas mentais sem saber que os têm, principalmente num país em que psiquiatra é "coisa de doido".
Creio que a abordagem desse caso deve ser a mais imparcial possível, como em todos os casos. Nisso mais uma vez concordo com Reinaldo Azevedo, segundo o qual o advogado da família não falou de início que se tratava de alguém conhecido. Se as informações não forem as mais precisas, os crimes podem ficar sem apuração eficaz, notadamente quanto às circunstâncias, à relação do autor com as vítimas e à motivação dos crimes - elementos essenciais para a reconstrução da cena e a dosagem da pena ou estabelecimento da medida de segurança, para a hipótese de se tratar de um surto ou doença qualquer que impediu o rapaz de entender o que fazia e de se conduzir de acordo com esse entendimento.
A ordem jurídica brasileira permite o uso religioso da ayahuasca em nome da liberdade de religião e em defesa da cultura indígena.
O que diz a Lei nº 11.343/2006, que estabelece a Política Nacional de Combate às Drogas?
"Art. 2º. Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso".
Hoje, com base em decisões do CONAD e nos estudos produzidos pela Câmara de Assessoramento Técnico- Científico (CATC) e pelo Grupo Multidisciplinar de Trabalho, que contou com a representação de entidades adeptas do chá, o uso religioso da ayahuasca é permitido dentro de algumas balizas, dentre as quais uma das mais difíceis é, na minha concepção, proibir o tráfico e selecionar criteriosamente as pessoas que podem ingerir o chá.
Isso se dá em nome da liberdade religiosa e do respeito às culturas indígenas. Todavia, quando se trata de saúde e de ordem social, precisamos nos preocupar. Esse caso do cartunista Glauco talvez abra os olhos da sociedade - não sou tão otimista assim - para os problemas relacionados ao uso de substâncias psicotrópicas, e da necessidade de um controle social que dependa de debates mais apurados do que os entabulados até agora.




Achei o texto de Veja (A seita do barato) em:

O texto de Reinaldo Azevedo (Daime, inconsistências e absurdos) pode ser encontrado em:

A regulamentação atual do uso religioso da ayahuasca encontra-se descrita no Relatório Final do Grupo Multidisciplinar de Trabalho - Ayahuasca.

http://www.ayahuascabrasil.org/index.php?op=legis101


Resolução nº 05, de 2004, do CONAD:

http://www.ayahuascabrasil.org/index.php?op=legis100

15 comentários:

Marcio Monteiro disse...

Caro Alex Esteves,

Creio que na verdade o problema não é a religião, mas o homem. Casos de tragedias existem em todas as religiões e cukpá-las seria um erro. Mas sim, o probelma é o homem e suas escolhas. Neste momento a humanidade deve se unir, cada um no seu seguimento a Deus, pois todas as religiões estão sendo alvo de criticas, desde as mais tradicionais até as mais recentes como o Santo Daime. É hora do respeito, a verdadeira Igreja do Cristo está no coração dos homens e não em suas intituições religiosas, embora sejam espaços de celebração e acolhimento em seu coração, pois o próprio Cristo disse que "onde houver duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, eu estarei lá", e não há menção biblica sobre pertencimento a seguimento X de Cristo, garantir a salvação que o irmão que segue Cristo por Igreja Y, não conseguirá.
Cada Igreja deve procurar aperfeiçoar o seguimento de seus fiéis a Cristo.
As denominações de seita ou Igreja, são convenções sociais.
Discordo neste ponto em que mostra por meio do sincretismo o fato do Santo Daime não ser Cristão, quando o próprio cristianismo não é puro em si, mas advem do sicretismo com o judaismo e outras religiões anteriores, na qual Cristo veio revelar o amor ao próximo e a Deus como Lei maior, superior a outros dogmas da epoca.
O termo Seita, vem do significado de sectarismo, ou seja, da mesma forma que o Santo Daime seria classificado como tal por sectar (originar de) do catolicismo, espiritismo e xamanismo, o protestantismo também o é por meio de Lutero, quando é sectado do catolicismo romano, e desta nova seita luterana, surgem outras linhas: pentencostal, neopentencostal, dentre outras.
Em verdade, considero que toda expressão de fé tem início como seita a vista da sociedade e vive como Igreja no coração de seus fiéis, até que ao tomar proporções maiores, é aceita como Igreja pela sociedade em que está. Lembre-se que mesmo o cristianismo já foi considerada seita no seu inicio, descrito em Atos dos Apóstolos.
E para quem estuda e tem contato, com o sentimento dos fiéis de várias Igrejas, percebe que todas elas cumprem o conceito de Igreja que demostra em seu texto.
Mas meu foco aqui, é tentar mostrar o ponto de vista do respeito, da compreensão, do seguir a Cristo em nossas ações no dificil cotidiano, e assim construir o reino de Deus, e não procurar colaborar com o ponto de vista de dividir os seguimentos a Cristo, somos todos irmãos, "existem muitas moradas na casa de meu pai" e como irmãos, por mais que pensemos diferentes, não podemos nos dividir, mas sim louvar e seguir ao pai de nossas várias moradas.
Posto alguns links abaixo sobre casos de violência e tragedias entre fiéis e dentro de diversas Igrejas de credos diferentes, somente para ilustrar que o caso de Glauco é lamentável e triste, com causa numa atitude de uma pessoa que buscava cura, mas esta pessoa poderia ter ido a qualquer Igreja e ocorrer a mesma coisa, ou não.

Márcio Monteiro, Sociólogo e Cristão com formação espiritual na Igreja Católica Romana na linha da Teologia da Libertação.

http://noticias.gospelmais.com.br/jovem-evangelico-confessa-ter-assassinado-ex-namorada-com-chumbinho.html

http://www.aryramalho.com/2010/02/pastor-e-assassinado-enquanto-pregava.html

http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=42393

http://www.cot.org.br/noticias/sacerdote-catolico-assassinado-no-quenia/

http://www.acidigital.com/noticia.php?id=17089

Alex Esteves da Rocha Sousa disse...

Prezado Marcio Monteiro:

Agradeço seu comentário.
Olha, eu compartilho da sua sugestão para que respeitemos as religiões, e é isso o que coloco no post. Apenas faço críticas à forma como se dá o controle social do uso da substância alucinógena por seitas, que ministram o chá a crianças e pessoas que podem ter problemas de surto psicótico, sem nenhum filtro. Respeito a liberdade religiosa, mas creio que o Estado é bastante omisso nessa questão, e a sociedade não participou desse debate. O GMT foi composto por cientistas e representantes das seitas, não da sociedade como um todo. Não houve debate no Congresso. Mas, por quê? Só porque são grupos minoritários? Quanto às palavras "seita" e "igreja", reconheço como razoáveis suas afirmações do ponto de vista sociológico, até semântico, mas creio que a mídia faz confussão nisso. Ao mencionar a questão da doutrina cristã, faço isso porque é o Santo Daime que se diz cristão e com isso exige de nós, cristãos, uma palavra para confronto de ideias. Sigo no mesmo caminho de leitores da Folha que hoje pedem que esse jornal passe a tratar do problema das drogas, relacionando a questão ao caso Glauco.
Obrigado pelo acesso e pelo comentário!
Alex.

João Armando disse...

O que o Alex procurou mostrar é, dentre outras coisas, a parcialidade com que a imprensa retrata fatos como esses (que, obviamente, acontecem em todas as religiões, como o Márcio Monteiro disse). O exemplo clássico é o do "evangélico" que estuprou alguém ou que traficava armas. Ninguém nunca viu uma manchete do tipo "católico flagrado traficando drogas no morro tal" porque ser católico não qualifica ninguém, mas ser evangélico sim, qualifica, chama a atenção, separa, distingue. Imagine a repercussão que teriam os fatos se tivessem acontecido num acampamento evangélico? Com respeito à droga (sim, droga) da ayahuasca, a lei pode até liberar, mas nem por isso é saudável, nem por isso devo ou posso concordar com essa liberação. A lei permite encher a cara com uisque, nem por isso eu o farei ou a embriaguez se justifica. A lei me permite adulterar, abortar (em alguns casos, mas enfim) - mas eu tenho a lei de Cristo, acima e maior, que me guia. Com respeito às "muitas moradas", discordo do Márcio. O mesmo Jesus que mencionou isso (sem jamais pretender ensinar vida noutros "planos") também disse, com meridiana clareza, "ninguém vem ao Pai senão por mim". O apóstolo Pedro também disse que não há salvação em nenhum outro (Atos 4.12), portanto não é verdade que todos os caminhos levam ao Pai. Só um caminho leva ao Pai, a saber, Jesus Cristo. Incluo a "religião evangélica" nos caminhos que NÃO levam ao Pai, pois não se trata de religião mas de confiar só na Obra de Cristo. Há muito evangélico que se dirige ao inferno, se não se arrepender da vida de pecado que leva. Nisso, creio, concordamos. Mas, voltando ao cartunista assassinado, que Deus console os familiares e que os olhos dos seguidores da tal religião "daimista" abram os olhinhos.

deusb disse...

teologicamente, joão armado, a segunda parte, quando cita passagens bíblicas vc recai num equivoco. considerando o aspecto espiritual do livro, não se pode negar o contexto em que isso foi dito. a prática da descontextualização pode servir a infinitos propósitos e justificar posições estremadas, ou pior, qualquer posicionamento. por se tratar de uma doutrina do campo espiritual, sua conduta moral é muito clara que se soma a um contexto histórico. afinal, pedro existiu, assim como paulo em um determinado tempo e lugar.
quando o marcio usa a citação ela se aplica especificamente ao que ele esta dizendo e a citação ganha enfase da doutrina espiritual. jesus disse: "onde houver duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, eu estarei lá". isso será sempre verdade.
em atos 4:12 pedro e joão são presos e levados aos sacerdotes de jerusalém. hora, são os mesmos que condenaram jesus, e promovem a teocracia em uma oligarquia, da qual, por exemplo caifás fazia parte, estamos falando de corrupção e perseguição religiosa. neste contexto e dirigido aquele grupo de sacerdotes judeus, e não se dirigindo a toda a religião judáica, mas sim aqueles que o julgavam e se sentiam no direito de faze-lo pedro diz: (salvo diferentes traduções) "não há salvação em nenhum outro; pq abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos"
neste caso, a interpretação reforça a tese do marcio de respeito as escolhas religiosas, pois não será os homens que definiram a salvação, mas deus. é isso que diz a passagem.

Alex Esteves da Rocha Sousa disse...

deusb,

Agradeço-lhe o acesso e o comentário.
Veja bem, creio que posso aplicar o seu raciocínio ao que você escreveu: seu posicionamento relativiza o texto bíblico de Jo 14.6, em apoio a Marcio Monteiro, embora afirme o perigo da descontextualização. Sim, existe esse perigo, e você cedeu ao risco. Numa análise sistemática da Bíblia, não há mesmo vários caminhos, mas um só. É crer na mensagem bíblica ou não crer. Se nos afastarmos da mensagem total da Bíblia em favor de opiniões e "situacionismos", a Palavra de Deus será substituída pela palavra dos homens. Pense nisso.

João Armando disse...

Não entendi o questionamento. Sim, onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome, ele estará lá - mas ele, só ele, é o único caminho para o Pai. Tanto naquele tempo como hoje como sempre. O que Pedro disse não era "só para os fariseus daquele tempo". Ele não condicionou o nome de Jesus como único caminho "àquela situação". O que é verdade hoje sempre o será. Jesus disse "ninguém vem ao Pai" (note - não disse "vai" mas "vem") "senão por mim" - ponto. Ou seja - Buda não leva ao Pai, Maomé não leva ao Pai, o espiritismo ou o protestantismo ou o catolicismo ouigreja nenhuma leva ao Pai - só ele. Isso pode escandalizar a mente moderna, mas é a verdade, e a verdade é o que liberta. Toda a mensagem bíblica é essa. Só Jesus - e não outro.

Unknown disse...

Caro Alex
O grande problema da humanidade, está em rotular o QUE NÃO SE CONHECE.
A Doutrina do Santo Daime é uma religião genuinamente brasileira e profundamente cristã.
Procure conhecer, lhe fará muito bem.

Alex Esteves da Rocha Sousa disse...

ticiana:

Veja bem, dizer que o Santo Daime é doutrina "genuinamente cristã" prova que, se eu não conheço o Santo Daime, você não conhece a doutrina cristã. As duas coisas não combinam. Só pelo uso do chá alucinógeno já deixa de ser cristã. Os daimistas podem dizer o que quiserem, mas sua doutrina é um sincretismo entre a cultura indígena, ideias supostamente cristãs e outras religiões.
Mas é bom ter sua participação. Enriquece o debate. Continue acessando o blog.
alex.

deusb disse...

olá alex, é uma pena que meu texto sobre sua citação de joão 14:6, não tenha chegado até vc. bem de qualquer forma tenho ele comigo se vc se interessar.
do ponto de vista fundamentalista eu compreendo que vc diga que uma doutrina não possa ser cristã quando se vale de um "agente" alucinótico.
mas gostaria de propor uma reflexão; seria pelo carácter alucinótico? por estar associado a perda parcial da razão? seria por usar um elemento "mágico" no sentido antropológico? ou pq a bebida esta associado a um sincretismo indígena?
sendo pelo uso de um elemento mágico, isso descartaria o cristianismo católico, que transforma na sua liturgia o vinho em sangue. a perda parcial da razão é tb uma pratica espiritual dos evangélicos (o falar em línguas) e esta presente na maioria dos cultos religiosos. quanto ao sincretismo na religião isso seria a afirmação de uma doutrina "pura"? será que existe de fato uma doutrina "pura". o próprio cristianismo não é sincrético? qualquer estudioso da teologia cristã é capaz de apontar a relação que existe entre o cristianismo e a filosofia platônica e esta fruto de muitos outros sincretismo.
não acredito que seja isso que excluiria os adeptos do daime da ideia de cristandade. lógico, dentro de uma visão não fundamentalista, pq não sendo desta forma isso nos impediria de dialogar.

deusb disse...

olá alex, é uma pena que meu texto sobre sua citação de joão 14:6, não tenha chegado até vc. bem de qualquer forma tenho ele comigo se vc se interessar.
do ponto de vista fundamentalista eu compreendo que vc diga que uma doutrina não possa ser cristã quando se vale de um "agente" alucinótico.
mas gostaria de propor uma reflexão; seria pelo carácter alucinótico? por estar associado a perda parcial da razão? seria por usar um elemento "mágico" no sentido antropológico? ou pq a bebida esta associado a um sincretismo indígena?
sendo pelo uso de um elemento mágico, isso descartaria o cristianismo católico, que transforma na sua liturgia o vinho em sangue. a perda parcial da razão é tb uma pratica espiritual dos evangélicos (o falar em línguas) e esta presente na maioria dos cultos religiosos. quanto ao sincretismo na religião isso seria a afirmação de uma doutrina "pura"? será que existe de fato uma doutrina "pura". o próprio cristianismo não é sincrético? qualquer estudioso da teologia cristã é capaz de apontar a relação que existe entre o cristianismo e a filosofia platônica e esta fruto de muitos outros sincretismo.
não acredito que seja isso que excluiria os adeptos do daime da ideia de cristandade. lógico, dentro de uma visão não fundamentalista, pq não sendo desta forma isso nos impediria de dialogar.

deusb disse...

olá alex, é uma pena que meu texto sobre sua citação de joão 14:6, não tenha chegado até vc. bem de qualquer forma tenho ele comigo se vc se interessar.
do ponto de vista fundamentalista eu compreendo que vc diga que uma doutrina não possa ser cristã quando se vale de um "agente" alucinótico.
mas gostaria de propor uma reflexão; seria pelo carácter alucinótico? por estar associado a perda parcial da razão? seria por usar um elemento "mágico" no sentido antropológico? ou pq a bebida esta associado a um sincretismo indígena?
sendo pelo uso de um elemento mágico, isso descartaria o cristianismo católico, que transforma na sua liturgia o vinho em sangue. a perda parcial da razão é tb uma pratica espiritual dos evangélicos (o falar em línguas) e esta presente na maioria dos cultos religiosos. quanto ao sincretismo na religião isso seria a afirmação de uma doutrina "pura"? será que existe de fato uma doutrina "pura". o próprio cristianismo não é sincrético? qualquer estudioso da teologia cristã é capaz de apontar a relação que existe entre o cristianismo e a filosofia platônica e esta fruto de muitos outros sincretismo.
não acredito que seja isso que excluiria os adeptos do daime da ideia de cristandade. lógico, dentro de uma visão não fundamentalista, pq não sendo desta forma isso nos impediria de dialogar.

Alex Esteves da Rocha Sousa disse...

deusb,

Se você tem o texto sobre Jo 14.6, por favor, envie-me.
Digo que o Santo Daime não é cristão porque o Cristianismo ensina basicamente que Jesus veio ao mundo para perdoar os pecados da Humanidade. Essa é a base. Não precisamos de componentes alucinógenos e trabalhamos com a Revelação Escrita, não com uma religião esotérica (oculta). Não se trata de fundamentalismo: e, se partirmos para adjetivações, isso não será produtivo. A questão do sincretismo tem que ver com a religiosidade humana, enquanto o Cristianismo bíblico - não as correntes, mas o Cristianismo enquanto doutrina de Cristo - parte de Deus, de Sua revelação, e não de culturas e ideias humanas. Creio na inspiração das Escrituras. Creio na perfeição de Deus, em Seu poder, não só de inspirar, mas também de preservar o Cânon. Deus é perfeito e absoluto. Quer salvar os homens de seus pecados, e o pecado fundamental é buscar escolhas próprias à revelia de Deus, como se Ele não existisse. Jesus é o Mediador porque, sendo Deus e Homem, faz a reconciliação. O Daime baseia-se, não em Cristo, mas em um chá. Não se trata de desprezar a cultura, mas de refletir respeitosamente, pois a cultura também erra, incluindo a nossa. Não se trata de ser evangélico, mas de seguir a Cristo e procurar andar como Ele andou, aceitar o perdão de pecados, reconhecer-se pecador e deixar que o Espírito Santo entre em seu ser. Quanto às línguas, elas são um dom espiritual, não o fundamento de nossa religião. Nossa religião é Cristo. Se há exageros, combatemos todo exagero. Não procuramos êxtases, mas o poder de Deus, que pode se manifestar de muitas formas.
Um abraço!
Alex.

deusb disse...

obrigado alex,
quero agradecer a sua gentileza por me permitir colocar minha visão a cerca do que entendo sobre o caráter cristão. apreendo isso a partir de inúmeras leituras e estudos sobre este e demais livros sagrados, sobre os estudo da cultura e mitologia grega, muito influente na escritura cristã, do processo de formação das doutrinas e de outros estudos em antropologia.
vc cita esta belíssima passagem e assim podemos falar de cristianismo em seu caráter espiritual e doutrinário naquilo que acredito ser a grande transformação e a salvação a que jesus se propôs. faço isso abdicando de alguns aspectos metafísicos, mas não contradizendo-os.
joão 14:6 é talvez a passagem mais emblemática da doutrina cristã. pode-se inclusive dizer que é com esta afirmação que o pilar final do cristianismo é plantado por jesus. é um dos diálogos da última ceia; um dos momentos mais bonitos do novo testamento. narrado por joão, o apostolo do amor. jesus esta com os discípulos nos momentos que antecedem sua paixão. perseguidos e cientes da amplitude dos seus atos naquela sociedade [joão (12:37-43)], então os apóstolos vivem a tensão.
jesus esta comprometido em enfatizar pontos fundamentais do seu ensinamento. então em joão 12:47 temos cristo se opondo ao julgamento, contrapondo julgamento e salvação. destaco esta passagem por ser esta a questão que comentávamos anteriormente. jesus afirma: é o salvador não o juiz. na seqüência, não por acaso, vem seu ensinamento de humildade (joão 13). é uma qualidade exemplar que jesus considera nos homens cristãos. guardemos esta imagem e sigamos em leitura até joão 13:36-38. esta passagem evidencia como os apóstolos estavam tensos e temerosos pela integridade de jesus, o traidor já havia sido deflagrado e restava pouco tempo (joão 13:27)(...)

deusb disse...

(...)entramos no capítulo 14, medo e tristeza com os destino que os aguarda.jesus conforta seus discípulos. tomé teme pela doutrina e pergunta sobre que caminho seguir. tomé representa a palavra, ele precisa de luz no caminho a seguir, teme que não seja possível arrebanhar em uma doutrina, ele é razão. seu temor é justo, pois jesus mesmo não escreveu nenhum evangélio e 3 deles foram escritos por apóstolos que não chegaram a conhecer jesus. muitos estudiosos vêem significado nesta atitude o que é motivo de muitos debates. uma das interpretações esta justamente na resposta que cristo dá a tomé e que é justamente a passagem citada: Jesus diz a tomé: "eu sou o caminho a verdade e a vida; ninguém vem ao pai senão por mim."
a primeira coisa que se pode notar é a ruptura com a tradição judaica. jesus proclama uma nova liturgia, ele é o grande profeta, o messias, o salvador e o cristo. ele é a profecia cumprida. não há dúvida que é sobre doutrina que se fala. ele esta dizendo, e na continuação joão 14:7-9 enfatiza-se este aspecto; é como se dissesse - veja minha vida e meu exemplo, veja o que fiz e disse, esse é o caminho. - jesus não diz a igreja de pedro e o caminho, nem a de paulo, nem a de lutero. ele é o caminho. mas qual é a grande transformação doutrinária que jesus nos mostra? que elemento novo é colocado pela vinda de cristo - além do aspecto metafísico que é morrer para salvar a humanidade - que elemento doutrinário novo é este? pois em matheus 5:17 ele diz: "Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas, não vim para revogar, vim para cumprir." que lei é esta que ele fala? é a lei judaica, todos sabem. se jesus não veio mudar a lei, a lei de david e de salomão, então qual é sua contribuição. há inúmeras passagens que revelam, tomo como exemplo esta em joão 10:10, jesus diz: "eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" não há dúvida que é o amor. este é o elemento novo no judaísmo e também a transformação que promove o cristianismo. vida é amor. o cristianismo é a doutrina do amor, do amor pelo semelhante, pelo inimigo, pelo seu próximo. o amor fraternal incondicional.
desta forma eu não entendo o culto a figura personificada de jesus como a salvação. por outro lado não quero com isso dizer que o culto a jesus não propicie a salvação em termos cristãos, mas considero que não seja a única forma. esta clássica interpretação tb faz mais sentido, quando apresentado junta da idéia de que não é o homem que julgará quem será os salvos e fornece os elementos de uma doutrina universal. ao contrário como poderíamos falar de uma salvação universal em jesus personificado (entenda como culto restrito a sua figura) em sociedades que até hoje no oriente, em tribos indígenas, não sabe quem é? não parece coerente interpretarmos da maneira idolátrica. mas é sabido que o amor é um elemento universal de todas as culturas e seres humanos.

Anônimo disse...

Cabo,

Para Todos,

Como disse Jesus:" Pai, perdoa pois eles não sabem o que fazem". E para nós só resta pedir: Deus, eu não sou digno de que entreis em minha morada mas, dissei um só palavra e eu serei salvo



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Gostaria de estabelecer contato com você. Talvez pensemos a respeito dos mesmos assuntos, e o diálogo é sempre bem-vindo e mais que necessário. Meu e-mail é alexesteves.rocha@gmail.com. Você poderá fazer sugestões de artigos, dar idéias para o formato do blog, tecer alguma crítica ou questionamento. Fique à vontade. Embora o blog seja uma coisa pessoal por natureza, gostaria de usar este espaço para conhecer um pouco de quem está do outro lado. Um abraço.

Para pensar:

Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Bases de Fé

Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.