Imagine um lugar que ostente a placa "Palácio da Justiça". Esse lugar deve ser um poço de correção. Seus "palacianos" devem ser pessoas justas, probas, cujas decisões se baseiam sempre no bem comum e nas leis. Essas pessoas devem ter uma conduta exemplar, além de qualquer manual ou código de ética. Suas comissões de sindicância funcionam. A lei serve para todos, desde o zelador até o chefe da instituição. Esse deve ser um lugar ideal.
Todavia, não é assim. Estamos no mundo. Numa sociedade secularizada como a nossa, o mesmo palaciano que promove a justiça pública erra feio na vida privada. Adultera, xinga, mente, provoca ira nos filhos, destrata subalternos, apavora quem dele precisa, goza privilégios ilegais (o que já é público), defende um corporativismo infantil, não vê a necessidade do pobre. Sua justiça é farisaica, como um sepulcro caiado - bonito por fora e horrível de ossos secos por dentro.
Quem promoverá a avaliação da moralidade alheia? Qual será o concurso, qual será o critério para apurar a idoneidade de cada candidato ao Palácio da Justiça? Há testes psicológicos, mas são para a mente. Há testes de conhecimento, mas são, também, para a mente e o uso da técnica. Há testes de conduta social e da vida pregressa, mas nada que aprofunde muito, nada que veja além das certidões cíveis e criminais. Não há mesmo como vasculhar o coração do homem. E ninguém deve julgar.
Então, como fazer com a hipocrisia dos palacianos? Como aceitar que o juiz aceite suborno, que o defensor da lei seja o primeiro a descumpri-la? Como confiar numa pessoa que engana a sua esposa? Como confiar em quem detesta o mundo e os homens que nele habitam?
Esse é o desafio de todos nós. Vivemos numa sociedade complexa. O mundo é complexo. Nem sempre a justiça pública se fundamenta nos valores verdadeiros. Nem sempre os encarregados da administração da justiça são efetivamente pessoas que se preocupam em andar direito. E a maioria das pessoas enxerga isso como sendo normal: "uma coisa é o trabalho dele, outra é o lado pessoal".
Tudo bem. É assim, até certo ponto. Haverá um Dia em que até os palacianos serão julgados. Estarão eles sem nenhuma proteção institucional, sem foro privilegiado, sem máscaras, sem corporações. Estarão todos nus diante do Rei dos reis. Todos estarão atentos à prolação da Sentença Final. E naquele Dia todos serão iguais perante o Rei.
Um comentário:
Essa é a nossa esperança. Aliás, já somos, desde já, iguais perante o Rei. Só o sangue de Cristo faz a grande diferença - mas aí é o sangue. Só o sangue.
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