Acaba de ser descoberto, por acaso, no Arquivo Público do Estado de São Paulo, um documento de imenso valor histórico: a lista dos primeiros imigrantes japoneses, passageiros do navio Kasato-Maru, feita antes do embarque.
Acompanha a lista uma carta redigida pelo Cônsul brasileiro no Japão, Alcino Santos Silva, ao Secretário de Agricultura, Commercio e Obras Públicas de São Paulo. A carta é de 30 de abril de 1908.
O Cônsul dá conta de lacunas da lista, de aspectos culturais e de sua impressão dos japoneses. Diz, por exemplo, que a mudança de idade não esperava a passagem de 12 meses, mas tão-somente a virada do ano; que o japonês só sabe trabalhar para um chefe, obedecendo-o "cegamente"; que os imigrantes não deveriam ser levados a trabalhar mais que dois terços do que os imigrantes brancos; que a lista continha nomes de chefes de família que não embarcaram, pois o chefe de família, no Japão, era o parente mais chegado e velho, "em todas as circunstancias da vida" (sic); que o pessoal da ilha de Okinawa falava uma língua que os demais japoneses não compreendiam, que eram dados à agricultura, obedientes e ativos, além de fortes e resistentes; que os imigrantes seriam "justamente apreciados" em São Paulo; que o tipo japonês era de baixa estatura, de aparência mais fraca do que forte, e "bastante feio". Mas ele diz que a impressão que teve dos imigrantes "não foi totalmente desfavorável". Reconheceu que os costumes dos japoneses eram bem diferentes dos nossos.
Causou-me surpresa a informação de que nem o Cônsul sabia do contrato entre o Estado de São Paulo e a Companhia de Imigração, o que lhe foi informado pelo presidente dessa entidade. Mesmo assim, ele enviou o grupo.
Os imigrantes foram vacinados, e sua bagagem, desinfetada. O vapor era um navio-hospital russo de nome Kaiserin, encontrado pelos japoneses em Port-Arthur.
Fiquei muito satisfeito de acessar esse importante documento, que o eventual leitor pode ver por si mesmo no link abaixo:
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