Preciso fazer aqui uma distinção: discordar não é ofender. Podemos divergir da opinião ou do comportamento de alguém, temos liberdade para isso, sem que a crítica resvale em ofensas pessoais.
Aprendi que há uma diferença entre consciência crítica e espírito crítico. Consciência crítica é a capacidade de avaliar e filtrar ensinos, informações e quaisquer mensagens que vêm à mente; já o espírito crítico é a postura de quem está pré-disposto a enxergar o aspecto negativo de pessoas ou coisas, mas sem fundamento ou por motivações erradas.
Parece-me que os irmãos de Beréia foram elogiados por Paulo por sua consciência crítica, e Lucas diz que foram eles "mais nobres", o que pode ser entendido no sentido de que eles tinham "mente aberta", eram mais "liberais". Por outro lado, os tessalonicenses não foram assim, e foi justamente sua falta de juízo crítico que os levou ao preconceito e à perseguição contra Paulo e Silas (ver At 17.1-11).
Os bereanos examinavam as Escrituras para ver se o que Paulo dizia era verdade (At 17.11). Eles usavam a cabeça, não acreditavam só por causa da pessoa que falava. Eles queriam ver a prova, o fundamento do discurso. E foram elogiados por isso.
Alguns pastores e líderes criam a idéia de que criticar é o mesmo que pecado de murmuração. Ao púlpito, começam a falar, em alto e bom som, que os que discordam da liderança são murmuradores e rebeldes. Isso é parte de uma ideologia de dominação, que busca anular pensamentos divergentes ou, ao menos, diferentes. Eles não querem a diversidade e promovem o simplismo, pois dominar um rebanho pensante é muito mais difícil.
Noto que muitas pessoas têm dificuldade em conviver com quem pensa diferente. Às vezes, já têm dificuldade de conviver com quem pensa, imagine se se pensa diferente! Há uma noção errônea de que discordar da idéia ou da conduta é falar mal da pessoa em si. Isso é totalmente equivocado.
Ora, falar mal de alguém é pronunciar-se sobre sua moral. Eu não posso fazer isso, e se fizer, poderei ser acionado penalmente por crime de injúria, calúnia ou difamação. Em juízo, terei que me defender provando que o crime imputado ao outro aconteceu (no caso da calúnia) ou que todo mundo conhece o seu comportamento infame (no caso da difamação). Em se tratando de injúria, não haverá como me justificar se houver pleno testemunho em meu desfavor, pois a injúria consiste em ofender a pessoa tachando-a de palavrões ou nomes que denigram sua imagem.
Quando eu escrevo aqui sobre heresias, práticas ou movimentos que considero antibíblicos, faço-o de maneira prudente, e com base bíblica. Apresento os fundamentos de meu raciocínio, e deixo que o eventual leitor pense por si mesmo. Eu confio na inteligência do leitor. Acredito que as pessoas pensam, quando querem pensar. Pensar é um dom de Deus. E, como escreveu John Stott, "crer é também pensar".
Acima de tudo, há a necessidade de sermos criteriosos.
Não precisamos concordar com tudo. O eventual leitor não precisa concordar comigo, mas não precisa me amar menos. A diversidade é uma das características mais lindas da Igreja de Cristo, certo?
Cumpre entendermos que o pregador é falível. Não cremos no dogma da infalibilidade papal, nem em coisa parecida. Mesmo quando está ao púlpito, o pregador pode errar, já que é um Ser Humano, e não recebe novas revelações nem está sendo inspirado na acepção mais técnica do termo - ou seja, Deus não inspira o pregador a falar coisas recebidas diretamente do Alto, como ocorria com os escritores da Bíblia. Se acreditarmos que isso ocorre hoje, então admitiremos que o Cânon ainda não fechou.
O pregador fala daquilo que o Espírito Santo coloca em seu coração a partir do que está escrito, e tem para isso talento natural ou dom espiritual. Não é infalível ex cathedra, como pensam os católicos a respeito de seu Papa.
Naturalmente, como sou simples professor de Escola Dominical e dono de um blog, as pessoas terão maior facilidade em descrer no que digo. Não sou hierarca, não tenho autoridade sobre o rebanho, senão sobre meus alunos quando do ensino no domingo de manhã. Deus sabe de todas as coisas, e isso envolve aquilo para o que Ele me vocacionou. Mas, embora sem poderes eclesiásticos ou favores do prestígio humano, tenho compromisso com a Palavra de Deus, e, se há um conflito entre a Palavra de Deus e os líderes de igrejas, fico com a Palavra de Deus.
De minha parte, continuarei escrevendo, pregando e ensinando sobre o que considero bíblico, e denunciando o que considero antibíblico. Não me demoverei de meu chamado, se assim o SENHOR me permitir.
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