Em períodos eleitorais, cometem-se muitos crimes tendo em vista a escolha de determinados candidatos. Isso ocorre em todos os níveis (municipal, estadual e federal). Candidatos prometem recompensas a eleitores, como cargos, vantagens e dinheiro. Há os almoços políticos, que na realidade servem de reunião para que o candidato promova o aliciamento de pessoas aptas a votar.
Veja-se a prescrição do Art. 299 do Código Eleitoral:
"Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita:
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa".
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa".
Além de ser crime, essa prática, como tantas outras, atenta contra a democracia, a cidadania e os direitos do próprio indivíduo que vota em troca de favores pessoais, porque o interesse público não é respeitado por um político que constrói sua carreira em torno do favoritismo.
No caso do eleitor puro e simples, o político dá, oferece ou promete qualquer coisa com o objetivo de obter o seu precioso voto. E, no que toca a comunidades, como, por exemplo, igrejas, a dimensão do problema é muito maior, porque se cria uma aliança espúria que inevitavelmente irá implicar em promiscuidade política na hipótese de o candidato ser eleito.
De fato, em sendo eleito, o candidato estará vinculado a compromissos extra-oficiais estabelecidos com líderes das igrejas, e, assim, fará convênios, doações e concessões inconstitucionais, porque o Estado brasileiro é laico, ou seja, não tem religião oficial nem pode promover nenhuma confissão religiosa, sob quaisquer títulos.
Vejamos o que diz a Constituição em seu Art. 19, I:
"Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".
A norma constitucional é clara, e visa à defesa da plena liberdade religiosa, que restaria violada se determinadas religiões fossem subsidiadas em detrimento de outras. O Estado é uma sociedade política, não podendo, por isso, atender a interesses estranhos ao bem comum. Cada igreja que cuide de suas atividades, sob as leis do País.
Os políticos que eventualmente constroem templos ou reformam suas instalações estão andando na mesma esteira de Herodes, que fez isso com o Templo de Jerusalém para agradar o povo. Ele, de origem iduméia, e, portanto, descendente de Esaú (Edom), nada tinha de simpatia pelos judeus, mas queria a adesão do povo a seu projeto de poder. Com sua politicagem, Herodes conseguiu o apoio da liderança religiosa em Judá. Não é assim que fazem os politiqueiros hoje?
Outra coisa medonha, antidemocrática e anticristã é levar políticos para dentro da igreja a fim de pedir votos em seu favor. Isso piora quando a divulgação do candidato é feita sob ameaças supostamente bíblicas, que lançam medo nos crentes a partir de falsas notícias sobre a candidatura de políticos adversários, como o fechamento de igrejas ou a instauração do comunismo no Brasil por meio de um decreto...
Discordo dos tais "candidatos naturais", que seriam os crentes. Nem todo crente será um bom administrador público ou legislador, e nem todo não-crente será ruim na política. Aliás, o termo "ímpio" é adequado para pessoas que praticam a impiedade, a injustiça, a desigualdade, e não simplesmente para pessoas que não professam a fé cristã. Ímpio é um conceito mais ético do que confessional. Não posso admitir o termo em sentido tão amplo.
Foram os "candidatos naturais" de igrejas que se envolveram com o Escândalo das Sanguessugas, naquela história de ambulâncias com preço superfaturado em benefício da família Vedoin. Foi boa essa escolha? É certo que não.
Como diz o texto de Pv 30.7, "a sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, dá". O que os políticos corrompidos querem é absorver o sangue, quero dizer, o dinheiro do contribuinte.
Também não será correta a existência de "conselhos políticos" em igrejas se o objetivo for a escolha periódica de "candidatos oficiais" que irão tão-somente defender interesses fisiologistas, apequenados, de comunidades singulares. Os conselhos políticos poderiam ser muito bem empregados na construção de uma perspectiva da igreja em assuntos de interesse social, como direitos humanos, economia, teologia da cidade, cidadania, direitos trabalhistas, meio ambiente e pesquisas científicas, para ficar com alguns exemplos.
Com um número tão grande de deputados federais evangélicos, além de dois senadores, por que as causas de interesse evangélico só chegam à nossa ordem do dia quando os projetos estão quase chegando à sanção do Presidente da República? Quantos deputados federais evangélicos se destacam ao menos em discursos na tribuna? Todos pertencem ao baixo clero, não têm peso político, mas nós ficamos achando que eles estão lá para defender a moral e os bons costumes...
Sei que existem políticos evangélicos honestos, e pessoalmente conheço ao menos um deles que já me deu sinais importantes de seu bom caráter. Mas ele é exceção, e não me consta que tenha contado com os canais politiqueiros de Herodes, e, sim, com seu trabalho.
Por fim, é necessário lembrarmos: a igreja é rebanho de Deus, e não curral eleitoral. Grandes males poderiam ser evitados se admitíssemos como verdadeiras essas palavras!
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