No recôndito do meu gabinete os problemas da Igreja são analisados conforme o que entendo ser bíblico. Mas a minha limitação é o próprio gabinete; as paredes me restringem, a mesa que está diante de mim não me deixa ir adiante. Ou sou eu mesmo quem não quer sair daqui?
O gabinete é confortável porque nele não há oposições, adversários, discussões acaloradas, contra-argumentos. Todos concordam comigo, porque só eu estou neste lugar, diante do computador, com a Bíblia por perto e talvez um ou dois livros de auxílio.
Meus livros nas duas prateleiras, a maioria eu ainda não li. Há livros bons, uns novos, outros bem velhos, alguns que me emprestaram para eu ler e dar uma opinião, sei lá, aprender alguma coisa. Com isso eu fico pensando e escrevendo, inserindo postagens neste blog, e iniciando uma parceria com um periódico de Campo Grande-MS.
Questiono, porém, a mim mesmo. Terei eu estômago para enfrentar a veracidade de minhas "teorias"? Terei eu estômago para deparar com os problemas reais da Igreja se mais me embrenhar nela? Terei eu estômago para ver a politicagem, a bajulação? Terei eu estômago depois de ver que eu mesmo não sei receber críticas? Terei eu estômago para testemunhar de perto a crise do evangelicalismo brasileiro? Terei eu estômago para ver que "na prática a teoria é outra"? Terei eu estômago para começar uma coisa e não poder continuar? Terei eu estômago contra os meus próprios pecados nos relacionamentos interpessoais? Terei eu estômago diante de outras ovelhas que eventualmente eu venha a não suportar? Terei eu estômago para exercer um serviço cristão sem ibope? Terei eu estômago para pregar ou ensinar e não ser ouvido? Terei eu estômago para um trabalho em que o homem deve diminuir, enquanto a gente vê que tem homem querendo ser mais do que Deus? Terei eu estômago para sistemas fundamentados na promoção de quem "veste a camisa"? Terei eu estômago para não ser eu? Terei eu estômago para ver e rever e ver de novo liturgias em que a adoração é substituída por programações que exaltam a vaidade? Terei eu estômago para enfrentar - "enfrentar" é a palavra - pregações de auto-ajuda evangélica, que se baseiam no antropocentrismo, e não em Deus?
É por isso que fico no meu ganibete esperando um jeito de fazer alguma coisa mais útil na igreja. Bem, eu não sei, creio que há outros fatores, como o meu próprio estilo de vida, mais caseiro, mais pensativo, mais introspectivo - por incrível que pareça eu sou um misto da verborragia de Pedro com a melancolia de Moisés.
Graças a Deus eu não tenho problemas estomacais, mas o pastor Timóteo sofreu com eles freqüentemente (I Tm 5.23). Nem Paulo o curou, restando-lhe tomar o vinho curativo que o mesmo Paulo recomendou. Eu não sei se o estômago de Timóteo foi afetado por uma úlcera nervosa, mas isso acontece com pessoas estressadas. Bem, Timóteo tinha motivos para se estressar, mas não podemos afirmar nada nesse sentido.
O fato é que tenho pensado sobre meu espaço no mundo. Se eu penso e escrevo, ainda que para um público muito, muito pequeno, preciso pôr à prova o que vai na minha cabeça franzina. Preciso praticar as obras que Tiago diz necessárias. Certamente a classe de Escola Dominical em que dou aulas constitua um lugar para se produzir algo positivamente. Ali há pessoas.
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