Não me levem a mal, mas tenho a impressão de que a Língua Portuguesa não foi muito delicada com algumas figuras familiares. Refiro-me às palavras "sogro" e "sogra", "madrasta" e "padrasto" - creio que os próprios sogros e padrastos nem gostam desses termos que usamos para designá-los.
O vocábulo "sogro" lembra-me outra coisa, que não sei o que é no momento. Parece personagem de contos medievais, algo assim. Pense na seguinte frase: "Ali naquelas terras, vive um sogro solitário..." Não sugere uma imagem de filme fantasioso?
Quanto à palavra "sogra", além de ser associada ao "sogro", vem com a carga das piadas de sogra - aliás, de muito mau-gosto - e daquele artefato de festas infantis, a chamada "língua-de-sogra". Coitadas! Nunca entendi o motivo disso tudo. Deve ser porque meus sogros são muito gente fina.
Mas temos ainda a palavra "madrasta". Os contos de fadas apreciam essa figura da madrasta, que sempre vem retratada como megera ou bruxa. Lembram da história da Cinderela? E da Branca de Neve, lembram? Não vou citar outras, minha esposa disse que as outras são variantes destas. De qualquer modo, quando falamos de "madrasta", creio que fica impregnada em nosso inconsciente aquela idéia ruim das historinhas de criança.
Com a mudança dos costumes, com os casamentos cada vez mais efêmeros e instáveis, a família brasileira teve sua estrutura remodelada. Dessa forma, as madrastas e padrastos são freqüentes, abundantes.
De fato, há famílias em que os cônjuges (parceiros, companheiros, não sei mais) trazem para o recôndito do lar filhos de casamentos pretéritos, e todos convivem. O pai de um é o padrasto de outro, a mãe de um é madrasta de outro. Desse modo, une-se numa só casa a máxima personificação brasileira do afeto - a mãe - com a boa e velha madrasta. Eis a família feliz de nossos dias, a vitória dos paradoxos!
Há o caso dos casais que se separam e o marido precisa pagar pensão, o juiz regula visitas semanais, essas coisas. Os filhos vão passar finais-de-semana na casa do pai, com a presença inevitável da...madrasta, que na maioria das vezes deve ser gente boa.
Registre-se também que, assim como uma dupla de pai e mãe são os "pais", uma dupla de padrasto e madrasta é denominada "padrastos", o que atribui um peso ainda maior ao que já é denso.
Portanto, diante de todas essas injustiças e à necessidade de adaptarmos nosso vocabulário às transformações sociais, proponho uma reforma línguística no País, que confira maior leveza a essas personagens. Aceito idéias.
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