Minha filha Elisa ainda mama no peito, embora tenha quase dois anos e quatro meses - que se completarão amanhã -, e embora já coma arroz, feijão, carne etc. Ela gosta de mamar por uma questão emocional, porque nutrição ela consegue normalmente sem o leite materno.
Elisa mama às vezes quando quer chamar a atenção da mãe, especialmente quando eu estou conversando com ela. Mama várias vezes ao dia, se deixar. De manhãzinha, ela acorda e mama. À noite, para dormir, ela mama.
Miriam tentou alguns expedientes sugeridos, mas não deu certo. Sugeriram sal amargo e outras coisas, mas Elisa encara tudo. Ela quer mamar e, para isso, supera os amargos da vida. Tudo por um motivo emocional, talvez de insegurança, não sei.
No entanto, agora queremos ter outro filho, e parece que o fato de Miriam amamentar diminui a fertilidade. É a Miriam que diz isso, eu não entendo. Dessa forma, ficamos num dilema, pois queremos ter outro filho ou filha, mas só nós sabemos como a Elisa fica nervosa quando a Miriam diz que não vai dar o mamar pra ela. Certa vez Elisa até arranhou o rosto com as próprias unhas, de tanta raiva que sentiu por causa disso!
Assim, mesmo sem precisar do leite materno, porque já passou dos dois anos de idade, Elisa acha que precisa do leite. Enquanto isso, outro rebento ainda não pode ser gerado, e, quando nascer, vai querer, com razão, todo o leite do mundo.
Eu compreendo a Elisa - apesar de não concordar com sua postura. Ela sente-se bem acomodada junto à mãe. Afinal, qual o melhor lugar senão o colo aconchegante de nossa mãezinha? Existe, por acaso, um lugar melhor?
Temos, portanto, uma espécie de dilema que muitos pais devem atravessar. Deve ser tema freqüente de conversas entre mães que passaram por isso e mães que experimentam o fenômeno.
De minha parte, além de ficar na expectativa de que Miriam engravide, vejo-me a pensar no trabalho pastoral...
O pastor cuida de um rebanho com múltiplas necessidades. As ovelhas são diferentes, têm necessidades diferentes. Uma ovelha está crescidinha, mas ainda toma leite materno. Outras ovelhas precisam nascer. As ovelhas maduras são raras. As ovelhas que dão trabalho são muitas. As ovelhas precisam de cuidado constante para tudo: alimento, água, proteção contra lobos e outros adversários. As ovelhas também precisam de defesa contra sua própria fragilidade.
Há ainda o aspecto da diferença de desenvolvimento: cada ovelha cresce e se desenvolve de maneira diferente, há um tempo para cada uma. Não se pode dizer que uma ovelha de três anos terá o mesmo crescimento de outra da mesma idade. O tempo é individual, e por isso merece tratamento personalizado.
Admiro os pastores (de verdade). Admiro os pastores que sabem qual a essência de sua função, que amam as ovelhas que ainda mamam, e que sabem aguardar com paciência o nascimento de novas ovelhas.
O pastor, o pastor mesmo, cuida e ama cuidar. Aliás, se não for para amar, não serve para ser pastor, porque pode ser que a ovelha queira no momento mais atenção do que alimento; pode ser que seu problema seja mais emocional do que moral, intelectual ou espiritual; pode ser que o leite materno seja usado como forma de aproximação, e não apenas como forma de nutrição.
Conseqüentemente, o desafio é equilibrar o crescimento com a relação. Sem crescimento, a gente fica atrofiado e infantilizado. Sem relacionamento, a gente fica desumanizado.
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