Quando minha mãe era jovem, lá em Salvador-BA, houve o convite para ela participar da diretoria da mocidade, algo assim. Ante a sua hesitação, o pastor respondeu: "Luizinha, a mocidade não é uma oficina de carros novos, mas uma oficina de carros velhos". É certo que isso ilustra a idéia que o pastor tinha da igreja como um todo. E aquilo foi tão importante que minha mãe jamais esqueceu.
Um diácono com quem congreguei em Sete Lagoas-MG dizia com propriedade: "A igreja não é cadeia. A igreja é casa de misericórdia".
Ambas são metáforas que ajudam a entender o que esses homens - o pastor baiano e o diácono mineiro - pensam da igreja: ela é oficina de carros velhos, é casa de misericórdia. A igreja trabalha com pessoas difíceis de consertar, e com enfermos.
No entanto, o caso das igreja-cadeia precisa ser tratado hoje, pois muitas igrejas parecem mais com uma cadeia ou tribunal do que com uma casa de misericórdia ou oficina de carros velhos.
A igreja que se comporta como tribunal julga as pessoas a partir de um código moral-social-estaturário que não se coaduna com a graça nem com a justiça de Deus: não se coaduna com a graça porque o pecador é salvo pela misericórdia de Jesus Cristo, mediante a fé; e não se coaduna com a justiça de Deus porque esta se perfaz, não com obras da lei, mas com a mesma fé, pois é a fé que justifica (ler Rm 4 - aliás, ler Rm, Gl e Cl como um todo; ler Hb, Hc2.4 e a história de Abraão, pois esse é o tema central da Bíblia!). Assim, uma igreja que julga não vive pela fé, mas pelas obras.
A igreja que se comporta como cadeia aprisiona os crentes, porque os submete a uma rígida esfera de padrões extraídos de uma moral social, e não da Bíblia. Enquanto Jesus veio para libertar e justificar, essas igrejas-cadeia vieram para aprisionar, escravizar, acorrentar. Falam do ministério de libertação, mas prendem com algemas de ideologia supostamente bíblica.
Em vez de um lugar de solidariedade e autenticidade, em que as pessoas se sentem livres para compartilhar seus pecados e receber o perdão, vejo que muitas igrejas são como clubes de pessoas boas e bem-resolvidas, que mantêm famílias "certinhas", sem nenhum problema social. Como é que pessoas moribundas, homossexuais, alcoólatras, viciadas em drogas, prostitutas, endividadas, ex-presidiárias, enfim, como é que pessoas totalmente "erradas" irão ser bem aceitas num lugar em que o mote é justamente a condenação do comportamento espúrio, mas numa visão legalista, sem espaço para a graça santificadora de Deus?
A igreja é oficina e casa de misericórdia. Se ela não fosse oficina, eu estaria parado numa estrada qualquer lá atrás, o carro teria morrido. Se ela não fosse casa de misericórdia, eu não estaria vivo, mas aniquilado por uma doença terminal, que é o pecado.
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