Penso em dar um tempo para mim mesmo, quero dizer, em favor de mim mesmo: gastar mais tempo em casa, com minha esposa e filha, sem me preocupar com os concursos da vida, sem me preocupar com o curso de teologia nem com as aulas que tenho que preparar para a Escola Dominical - um tempo, não para deixar de ser crente, mas para ser verdadeiramente um crente.
Dar aulas exige ter bastante coisa em depósito, e meu depósito está quase vazio. Na seara espiritual, isso é multiplicado muitas vezes, porque existe a responsabilidade pessoal, a questão da piedade, da disciplina cristã, do caráter.
Assistir aulas exige muita disposição, e minha disposição é bem pequena atualmente. Logo eu, que gosto tanto das discussões teológicas, dos bons professores, e de estar sempre presente na faculdade!
Tenho que orar mais, ler mais a Bíblia, ouvir mais, parar de querer dar opinião em tudo, o que inclui este blog. Tenho que gostar mais de ir aos cultos de minha igreja, sentar numa daquelas cadeiras e apreciar o (longo) andamento daquele roteiro de músicas, orações, testemunhos e pregação.
É difícil para mim dar esse intervalo. Há meses venho precisando disso, e relutando em fazê-lo. Minha esposa acha que eu preciso de férias de verdade. Em todas as minhas férias eu tenho estudado, eu não descanso efetivamente, embora tenha muitas horas de não fazer nada.
Dar um tempo não é recuar, não é fracassar. Uma vez em 2005 eu falei que iria dar um tempo para, naquela época, estudar para concursos, e um irmão me disse que eu deveria buscar em primeiro lugar o Reino de Deus. Ele achou que estudar para concursos seria deixar o Reino de Deus em segundo plano. Eu tive que ir à casa dele para dizer que ele estava errado em pensar assim.
Graças ao estudo, sou formado em Direito e tenho um bom emprego no funcionalismo federal. Minha esposa, minha filha e eu vivemos do que eu faço profissionalmente. Não é uma questão de priorizar o mundo, mas de ter que comer. Além de tudo, eu tenho sonhos também na área profissional e intelectual, um homem de trinta anos não pode se infurnar no templo da igreja o tempo todo. Talvez faça isso quem está sem emprego, mas eu não posso me dar ao luxo de ficar o dia inteiro no templo ou procurando alguma coisa para fazer na igreja.
Mas agora eu preciso dar um tempo por outro motivo, pois até mesmo o estudo para os concursos a minha esposa acha que devo interromper por uns dias. Não que eu esteja estudando muito ou estudando todos os dias, não é isso. O fato é que eu penso sempre nos concursos e na teologia, e emocionalmente vêm as culpas, a frustração, a sensação de não saber para onde estou indo.
Quem fala muito, como eu, precisa redobrar o exercício da escuta. E quem ensina vai receber maior juízo, não é isso que Tiago diz?
Quem sabe nesse percurso eu não descubra que minha suposta vontade de mudar o mundo não seja, isto sim, a tentação de visibilidade e de poder?
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