Pergunto se devemos nos render à chamada "nova espiritualidade", em que, por exemplo, pessoas que se dizem evangélicas misturam o nome de Jesus com amuletos (galhos de arruda, sal grosso, rosas, cruzes...) e práticas não descritas para a Igreja neotestamentária (descarregos, festas judaicas, ritos os mais diversos...).
Em nome da liberdade individual, devemos sacrificar a objetividade das Escrituras? Será que não existe um parâmetro bíblico para os meios de falar com Deus e ouvir a Deus?
Creio que não defendo o legalismo quando penso na fixação de limites, pois é importante admitirmos que o fetichismo é pagão. A Fé Cristã não se coaduna com rituais porque Cristo é a nossa verdadeira religião. Se exagerarmos na questão da experiência que me dá prazer ou me faz achar que Deus está Se agradando de mim, corro o risco de acrescentar à Palavra do SENHOR símbolos que em nada traduzem o significado da Cruz de Cristo.
Não se trata de impor uma forma à religiosidade das pessoas, mas justamente tratar da essência do Cristianismo evangélico. Estamos buscando o quê? Queremos estabelecer uma espiritualidade alheia à Bíblia? Não deveríamos reconhecer que é Deus Quem conhece nossas necessidades mais profundas?
Deus estabeleceu a oração como veículo de conversação com Ele, em nome de Jesus; estabeleceu o batismo nas águas como ordenança de publicação da fé e integração do novo crente à comunidade eclesiástica; estabeleceu a Ceia como memória da morte de Cristo, exercício de comunhão e anúncio da mensagem cristã; disse que Cristo é a nossa Páscoa; propiciou o jejum como disciplina acessória da oração; fixou a reunião pública como ambiente adequado de culto cristão; propôs o ensino em casa, no âmbito da própria família; deu-nos o Seu Espírito para nos consolar, edificar, exortar, ajudar, ensinar. O que queremos mais?
O apóstolo Paulo jamais incentivou o uso de objetos com efeitos espirituais, nem deu margem à subjetividade em detrimento da objetividade escriturística.
Em Éfeso (cf. At 19.8-20), onde ele passou três meses freqüentando a sinagoga - "dissertando e persuadindo com respeito ao Reino de Deus" -houve depois a necessidade de ir ensinar na escola de Tirano, pois os judeus "empedernidos e descrentes" falavam mal do "Caminho" enquanto o apóstolo ensinava.
Assim, por espaço de dois anos, esteve Paulo falando a judeus e gregos, de modo a alcançar um público que habitava toda a Ásia Menor (atual Turquia). Pelas mãos de Paulo eram operados "milagres extraordinários", a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais de seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam".
Note-se que isso ocorreu, e, embora não tenha merecido nenhuma nota contrária da parte do escritor Lucas, não foi tomado como regra para as igrejas. Paulo nunca escreveu em Suas Epístolas que se deve pegar lenços e aventais do pregador e levar até os enfermos, para que sejam curados. Aquilo aconteceu, de fato, mas não é normativo.
Antes disso, em Jerusalém (cf. At 5.12-16), pessoas chegaram a levar enfermos "até pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra se projetasse nalguns deles". O clima era semelhante àquele de Éfeso, porque havia "muitos sinais e prodígios" operados pelas mãos dos apóstolos. Além disso, as pessoas se reuniam "de comum acordo" no templo (precisamente no Pórtico de Salomão); os crentes eram admirados por todos na cidade; a multidão de crentes crescia "mais e mais"; vinha "muita gente das cidades vizinhas...levando doentes e atormentados de espíritos imundos, e todos eram curados".
Para ambos os episódios, Lucas usa palavras e expressões que denotam um cenário grandioso: "todos os habitantes da Ásia"; "milagres extraordinários"; "muitos sinais e prodígios; "multidão"; "crescia mais e mais"; "muita gente" de outras cidades. O objetivo era mostrar que se tratava de um movimento importante, de bases populares, que não estabelecia metas nem métodos de atração de multidões nem crescimento. A Palavra de Deus era anunciada, o poder de Deus se manifestava, e o resultado era a aceitação em massa de Jesus como Salvador, tanto de judeus como de gregos.
Agora, o que ocorre em nossos dias? Estamos diante de um movimento espontâneo das massas? A Palavra de Deus está sendo pregada a essas multidões que lotam templos monumentais? Milagres extraordinários, muitos sinais e prodígios estão sendo experimentados entre essas pessoas? O uso de objetos com efeitos espirituais - para ajudar a fé - não é concebido e manipulado pelos líderes de grupos eclesiásticos como instrumento de atração das inúmeras pessoas que se acham em demandas variadas?
Dirão que muitos evangélicos de igrejas históricas e pentecostais buscam esses cultos fetichistas, e que por isso não se deve atribuir o fenômeno ao paganismo. Será? O paganismo é exclusivo de alguém? Teremos a coragem de disseminar a idéia de que o paganismo é uma religião estanque, ou não será mais válido dizermos que o paganismo é um traço da cultura brasileira, muito interessado, por sinal, em marcar também a Igreja?
É sério o nosso tempo. Estamos diante de um dilema: ou reafirmamos nossas bases de Fé ou eu não sei onde vamos parar.
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