terça-feira, 8 de abril de 2008

Gaio, Diótrefes e Demétrio - três personagens e algumas lições

Pequena introdução.
João escreveu uma Carta a seu amigo Gaio (v. 1). Na saudação, fez votos de "prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma" (v.2).
Assim como na Segunda Epístola de sua autoria, nesta Terceira Epístola o apóstolo João destaca a importância da verdade: ele ama seu amigo "na verdade" (v.1); ficou sobremodo alegre pelo fato de irmãos visitantes testemunharem de como Gaio andava "na verdade"; e disse que não tem maior alegria do que a de ouvir que seus "filhos andam na verdade"; nessa Carta de apenas 15 versículos surge nada menos que seis vezes a palavra "verdade", e uma vez a palavra "verdadeiro".
Gaio, o bom anfitrião.
Gaio foi elogiado porque procedia fielmente para com os irmãos, mesmo quando se tratava de estrangeiros. Esses irmãos deviam ser como testemunhas initerantes do Evangelho, que saíam visitando igrejas e confortando os demais. Parecem mesmo com os missionários de hoje, porque saíam pelo mundo "por causa do Nome, nada recebendo dos gentios" (v.7). Por isso, encaminhá-los "em sua jornada por modo digno de Deus" seria uma atitude correta da parte de Gaio, como ele mesmo já vinha fazendo.
Lendo a Didaquê, temos uma noção de como isso ocorria nos primeiros tempos da Igreja, pois se recomenda a boa recepção aos pregadores.
Aqueles que acolhem os missionários - os verdadeiros, não os falsos mestres nem os mercenários - são considerados "cooperadores da verdade" (v.8).
Diótrefes, o tipo clássico do manda-chuva de igreja.
O problema é que nem todos os irmãos são como o bom amigo Gaio. Com efeito, havia na igreja certo homem chamado Diótrefes, que gostava de "exercer a primazia entre eles" (v.9). Esse "irmão" era tão petulante que não acolhia a Carta enviada pelo apóstolo João (v.9); proferia contra João "palavras maliciosas" (v.10); não acolhia os irmãos visitantes (v.10); impedia os que queriam recebê-los (v.10); e ainda por cima os expulsava da igreja (v.10)!
Diante de comportamento tão danoso, o apóstolo do amor não hesitaria em conversar com Diótrefes e lhe fazer "lembradas as obras que ele pratica" (v.10).
O irmão Diótrefes dava um exemplo que não deveria ser seguido (v.11). É importante o versículo 11 trazer a seguinte afirmação: "Aquele que pratica o bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus". Isso quer dizer que as obras oriundas da fé em Deus representam um aspecto importante para demonstrar que a salvação é real. Uma pessoa que rejeita a doutrina apostólica - no caso, a Carta de João e impede que a obra do SENHOR seja realizada - como, por exemplo, a expulsão de missionários e manipulação de membros da igreja -, dá provas de que jamais aceitou a Cristo como Salvador. Não é isto que João está dizendo no v.11?
Demétrio, um homem de verdade.
Mas nem tudo está perdido. Havia na mesma igreja um homem chamado Demétrio, de quem a própria verdade dava testemunho, e de quem o apóstolo João dava testemunho (v.12). A verdade dar testemunho de alguém não é pouca coisa! Isso significa que a Palavra de Deus, ao ser lida, aponta para a retidão do indivíduo, assim como indica aqueles que agem de maneira indevida.
A amizade como valor comunitário.
A pequenina III Epístola de João termina com palavras muito pessoais. O apóstolo tinha ainda muitas coisas que escrever, mas preferiu fazê-lo tete a tete, ou, como está no texto, "de viva voz" (v.13,14). Ele fazia planos de se encontrar com o amigo Gaio (v.14).
Havia, porém, outros amigos, pois a Carta encerra com "os amigos te saúdam. Saúda os amigos, nome por nome" (v.15). Havia, assim, uma lista de amigos.
Quão maravilhosa é a amizade! Costumo dizer que para gostar de uma cidade o importante não é só a cidade em si, mas as pessoas da cidade, os amigos que se conquistam.
Cultivar boas amizades é um exercício valioso para quem deseja ser feliz, porque controla a amargura e a tristeza, promove momentos de alegria e comunhão, e por isso facilita o caminhar nesta vida de tantos problemas. Quem tem amigos pode desabafar, chorar "no ombro amigo", e jamais fica sozinho. Repito: quem possui amigos não fica sozinho.
A igreja, na condição de comunidade, serve para o cultivo de relacionamentos. Usamos chamar um ao outro de irmão, mas devemos entender que somos amigos também. Enquanto "irmão" dá uma idéia de fraternidade cristã, de "família de Deus" (Ef 2.19) - o que é bíblico e salutar -, "amigo" fornece a idéia de relacionamento escolhido. Sim, os irmãos geralmente não escolhem onde vão nascer, mas os amigos escolhem as amizades que irão construir. Por isso, somos irmãos e amigos ao mesmo tempo: fomos salvos por Cristo para vivermos na fraternidade cristã, e escolhemos uns aos outros para o exercício do amor relacional.
Vemos no Texto bíblico que João e Gaio eram amigos, e que havia uma lista de amigos. Por sua vez, Diótrefes não apenas rejeitou a amizade destes como também deu sinais claros de que sequer era um irmão.
Conclusão.
Gaio, Diótrefes e Demétrio são personagens que encontramos hoje com outros nomes, em novos cenários. Eles representam atitudes tomadas em igrejas por esse Brasil - para ficarmos só em nosso torrão.
Quem não conhece um bom anfitrião como Gaio, que recebe com alegria os pastores e missionários, os pregadores que vêm de longe participar de eventos da igreja? Em vez de ficarem em hotéis, esses visitantes podem aproveitar o aconchego da casa de irmãos como Gaio, que os recebem com um frago com quiabo em Minas, um caruru na Bahia ou bom churrasco com mandioca em Mato Grosso do Sul!
É certo que há os Diótrefes da vida, e é aqui que a história fica triste. São pessoas ou famílias que gostam de mandar na igreja e/ou nos pastores; que exercem um domínio feudal na pequena - ou na grande - comunidade; que se valem de seus dízimos abundantes para fazer o que querem, para impor sua teologia e seus gostos musicais e litúrgicos; enfim, são pessoas que contribuem mais para dividir igrejas do que para ganhar almas para Cristo.
Há muitos Diótrefes espalhados pelo Brasil. A palavra para eles é que revisem seu comportamento, pois "aquele que pratica o mal jamais viu a Deus" (v.11).
Em contrapartida, se há os Diótrefes há os Demétrios. Homens e mulheres cujo testemunho é formidável. Via de regra, essas pessoas só são reconhecidas depois de mortas, porque até lá muita coisa pode acontecer. João não quis esperar o falecimento de Demétrio: elogiou sua conduta enquanto ele ainda era vivo.
Aliás, até mesmo os Diótrefes viram gente boa depois da morte.
Essa breve reflexão é no sentido de que pensemos em nossas igrejas a partir das Escrituras, de personagens e episódios ali descritos. Nada há novo debaixo do sol, já ensinara o Eclesiastes (1.9). Os irmãos petulantes e manda-chuvas não surgiram no Século passado. Eles estão aí desde que a Igreja foi criada. Igualmente já existiam os verdadeiros amigos, os bons anfitriões, os homens e mulheres de verdade.
Pensemos nisso. Sejamos nós parecidos com Gaio e com Demétrio. Fujamos de parecer com Diótrefes.

2 comentários:

trez3 disse...

Ou muito doido esse texto...Que a graça de DEUS pai continue a te iluminar!!!!
Com + tempo vo ler mai o seu blog...Ta sendo uma bençao!!!
abraços e tosa sorte de bençaos.

trez3 disse...

Otimo pots!!
Deus seja louvado.
Com + tempo vo ler + o seu blog.
Jesus te abençoe cara.
abraços e toda sorte de bençaos pra vc!!
FUi.



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