Falar simples não é falar errado. E escrever simples não é escrever errado. A boa comunicação não precisa desprezar a boa linguagem. Para fazer qualquer crítica séria aos exageros da norma culta, o crítico precisa pelo menos escrever bem e falar bem. Do contrário, entendo que ele não gosta mesmo é de estudar português.
Dois exemplos de comunidadores eficazes são o apresentador Sílvio Santos e o missionário R.R.Soares - deste eu discordo radicalmente em termos doutrinários, embore não possa negar sua capacidade de comunicação. Ambos falam ao povo, às massas, seja à dona-de-casa que compra os carnês do Baú da Felicidade, seja à dona-de-casa que compra os carnês de "patrocinador" dos programas televisivos do missionário. São compreendidos, e não deixam de falar o português correto.
Ao menos para um português coloquial falado, Sílvio Santos e R.R.Soares não cometem nenhum crime contra a gramática. Eles não precisam dizer "nós vai" para serem compreendidos. Dizem "nós vamos" e o povo entende. É certo que não precisam rebuscar a linguagem, pois o público da TV é vasto e heterogêneo, a linguagem precisa ser adequada ao veículo de comunicação. Por isso, mantendo as letras de acordo com o público, os dois comunicadores estão certos sem agredir a língua pátria.
Da mesma forma, ao escrever devemos atentar para as normas gramaticais. Isso não é luxo nenhum, não é elitismo, é tão-somente uma obediência básica ao conjunto normativo que tenta conciliar a necessidade de comunicação com a necessidade de padronização. Os proponentes de uma comunicação sem regras terão dificuldade se um dia, por hipótese, não houver mais regras mínimas, porque as pessoas se comunicarão com ruídos e gestos.
É imperiosa a existência de uma norma culta, o que não impede a co-existência das gírias, das abreviações, dos efeitos da lei do menor esforço. A própria língua se encarrega de evoluir, pois é normal que uma língua viva se transforme com o tempo.
Quando o apóstolo Paulo disse que "a letra mata, e o espírito vivifica", ele não estava se referindo à letra da linguagem, tampouco ao estudo! Ele se referia à letra fria da Lei de Moisés, se dissociada do Espírito que traz vida, porque a lei apenas revela o pecado, que por sua vez produz a morte, enquanto o Espírito de Deus traz vida pela justiça que é pela fé, e não pelas obras da lei (II Co 3.1-11; Rm 2.25-29).
É muito importante que tenhamos em mente a função da boa linguagem. O apóstolo Pedro, um homem reconhecidamente "iletrado e inculto" (At 4.13), não se sentiu humilhado por ter se servido dos préstimos literários de Silvano para escrever sua Primeira Epístola (I Pe 5.12).
O apóstolo João, igualmente "iletrado e inculto" (At 4.13), escreveu cinco Livros canônicos (Evangelho de João, I, II e III João e o Apocalipse). Em seus escritos, mesmo sem a formalidade alexandrina do escritor de Hebreus nem o estilo discursivo de Paulo, o pescador João chegou a enfrentar firmemente os gnósticos e tratou com maestria do conceito do Logos, sem titubear, num tema que o herege Fílon ensinava de maneira bem diferente. Assim, em sua incursão pela filosofia grega, e contrariando a heresia judaica, João rebateu uma heresia da época e não cometeu erros que deixassem a doutrina cristã em perigo.
Portanto, falemos e escrevamos com acerto. Isso não faz mal a ninguém, e nem por isso deixaremos de ser espirituais ou conscientes da nossa dependência em relação a Deus, nosso SENHOR.
Um comentário:
Caro Alex:
Realmente, a grande quantidade de letras soltas e desarrumadas escritas e expostas na internet como verdades individuais e, não se sabe quem está por traz de tudo isso. Tem deixado muitas pessoas com péssimos hábitos ortográficos que faz entortar o cérebro de quem realmente sabe. São abreviaturas grotescas. Eles se defendem dizendo que é a linguagem da internet e outros dizem que é a linguagem de jovens. Em minha opinião é a linguagem daqueles que não querem nada com o estudo, são estúpidos com seus professores e chamam seus pais de cafonas. Quem viver verá o nosso português assassinado e ainda com aval de muitos professores, também jovens.
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